Os programas atuais de auditório da televisão nacional aberta são dos mais variados temas, isso todo mundo sabe, vê. A maioria deles obedece um quesito, porém: ter mulher seminua ilustrando o cenário.
Na maioria das vezes, esses programas são de humor e o papel delas se resume exatamente a isso: ilustração, compor o cenário.
O CQC da Bandeirantes ( que se vê em problemas em como lidar com a rebeldia do garoto Rafinha Bastos) é um dos poucos que ainda não se rendeu a essa ferramenta. A não ser que Mônica Iozi se rpeste a tal...
Quando os diretores desses shows não satisfeitos (tão) somente com as dancinhas das belas moças empregadas, entregam a elas a nem sempre difícil de tarefa de ser uma personagem 'burra', que vai interagir no programa, sendo lançada de simples dançarina para o posto de dançarina burra.O que no mundo corporativo eles chamam de upgrade! E que upgrade é esse!
Eu era dançarina, calada, logo, linda e sábia, agora, dançarina, falante, a minha burrice pode até ofuscar a minha beleza — calcule você aí agora seja a quantidade de burrice seja a quantidade de beleza, haja números...
Quem começou com a tal onda foi quem na música de Gilberto Gil continua balançando a pança, o gênio chacrinha com suas chacretes que, vestidas sensualmente para época, ajudavam o programa revolucionário a ser o que era.
É inegável que esse 'recurso' aumenta o ibope (atribua a essa sigla a importância que você quiser). Mas o fato é o seguinte: a revolução sexual e o flower power dos anos 60 foi pra dar nisso?
Acredito que a pílula do dia seguinte e outras transformações no comportamento da mulher tenham dado a legitimidade para essa classe de novos postos de trabalho, respeito social, e no geral, igualdade. A liberdade para se vestir também foi uma conquista importante, mas, as feministas que me perdoem, vocês podem mais, muito mais do que isso.
A verdadeira pergunta é se, com Sabrina Sato da RedeTv, Vera Fischer da TV Globo, Joana da Record e até Dilma na política, vocês se sentem bem representadas?
A situação é tão especial que até aqui, quem melhor tem ilustrado a mulher brasileira não é Sabrina com a simpatia que é normal À todas as mulheres daqui, nem a Vera Fischer que tem a beleza que só uma brasileira tem direito, nem Joana que possui um caráter que só pode ter alguma raiz no dendê baiano, mas sim Dilma com sua pseudo-fazina contra a corrupção!
Salve as mulheres!
Segue um texto de Luis Felipe Pondé publicado na Folha de S. Paulo sobre o tema, chamado "A ética de Eva"
Você acha que seria ético uma mulher usar da beleza pra conseguir o que quer na vida? E uma mulher usar seu belo corpo pra dar uma má notícia pro marido, como no comercial da lingerie Hope?
Esse comercial fala do poder feminino sobre o desejo do homem por ela e não sobre ela ser objeto indefeso do homem.
Aliás, desde o jardim do Éden. Apesar de Deus ter dito a Adão “não pode comer a maçã!”, Adão não resistiu a Eva: “Come meu amor, come!”. E Adão caiu de boca. O velho poder feminino.
Você pode ser uma daquelas pessoas que não entendem nada de mulher e dizer “isso é um absurdo!”, mas o fato é que usar a beleza como instrumento de vida é um dado natural da experiência humana, e não necessariamente um ato canalha ou de submissão.
A beleza é como a cerveja: um “gesto” do corpo entre a devassidão e a moderação.
Antes de tudo, a palavra “ética” é hoje tão banal quanto “energia”. Todo mundo tem um entendimento “pessoal” do que seria ética. Quando você escutar alguém começar com “a questão da ética”, fuja. Só vem blá-blá-blá.
Na filosofia, não há consenso sobre o que é ético. Para alguns britânicos, como Hume, Oakeshott ou os darwinistas, a ética é uma disciplina que estuda hábitos de pensamento, de afeto e de comportamento, estabilizados numa comunidade (num sentido mais restrito) ou na humanidade (no sentido mais amplo), que se revelam hegemônicos e bem-sucedidos em garantir uma certa ordem e um certo sucesso no convívio comum ao longo do tempo.
Estamos aqui a anos-luz de distância da mania de “perfeição ética” de gente como Kant ou Singer (o cara que acha que bicho é gente).
Analisemos a ideia de mulheres (caso mais comum) usarem da beleza física pra conseguir coisas na vida, à luz dessa ética do hábito.
Devemos separar o uso abusivo da beleza do uso ético da mesma.
Uma mulher bonita X se veste com uma saia curta para uma entrevista, entra numa sala com outras pessoas e se senta de pernas abertas. Isso é abusivo. Uma mulher bonita Y se veste com uma saia menos curta do que a mulher X, mas que ainda assim revela, escondendo, sua beleza, entra numa sala com outras pessoas e se senta de modo discreto. Isso é ético.
Neste nosso “experimento”, a mulher Y age de modo ético. Espera-se que mulheres bonitas revelem sua beleza (o mundo respira melhor onde há mulheres bonitas e a beleza é um gradiente, não um “ponto isolado no espaço”), mas essa revelação é pautada pela expectativa de que ela não esfregue sua beleza na cara de pessoas estranhas; na cara do marido, ela pode esfregá-la.
A ética aqui é antes de tudo o bom senso de que quem tem beleza pra revelar pode ser discreta; por extensão, quem tem beleza pra revelar e não é discreta é porque é “feia” por dentro.
A sutil relação entre ser bela e ser discreta compõe o campo dos hábitos morais desejáveis nas mulheres bonitas. Pode usar a beleza, mas com moderação, assim como o álcool.
O caso dos homens é um pouco diferente, não porque neles a beleza não conte, mas porque as mulheres erotizam facilmente o intelecto masculino, enquanto que homens dificilmente erotizam a inteligência feminina. Pouco adianta as meninas ficarem bravas com isso.
Se o entrevistador for um homem, provavelmente ele levará primeiro em conta a beleza das duas em detrimento das mais feinhas. Mas a vulgar sempre poderá perder a vaga no caso de o entrevistador ser também ele alguém de bom senso.
Todo mundo prefere gente bonita à sua volta. O ambiente de trabalho fica muito melhor quando tem mulher bonita, cheirosa e bem vestida por perto.
Mas isso não deve ser o critério último da decisão. Entre duas capazes, uma bonita e outra mais feinha, entretanto, a bonita leva.
Claro que a raiva contra argumentos como esse nasce dos chatinhos.
É a falta do “recurso” contingente (a beleza até hoje é em grande parte obra do acaso, ainda que cada vez mais passe a ser, em parte, obra da grana) que causa o rancor. Temo que uma hora dessas inventem uma cota de feinhas para as faculdades, as empresas e a publicidade.
Ou que proíbam as mulheres de ficarem de calcinha em casa.