março 2013

Pindaíba musical no Rio de Janeiro

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Eu "e aí, mano. Tô aqui no Centro, qual a boa de hoje?", no que ouço "vou tocar samba hoje numa casa legal por aí. Quer me encontrar mais tarde?". Claro, e assim encontrei ele e mais outros amigos na Lapa, aonde vi e ouvi violão, banjo e percussões de qualidade. O ambiente também era ótimo, agradável e top. Não escondo que era caro também — o que para mim não fez a menor diferença por que entrei de VIP e ataquei numa comanda VIP também; amigos músicos e suas cumplicidades. E assim se desenhou, com muitos gringos emoldurando a noite, a festa que não parou por aí: "vamos hoje no sarau na casa do "táxi lunar", tá afim?", "táxi quem?", "o Geraldiz Azevediz"...Consegui entender, diferentemente dele que não conseguiu ser engraçado.

A proposta da casa de apresentações é corriqueira na nossa cidade, amostras de samba e rebolado pra turista ver. O que não tem erro até aí. A questão é que, na dita cuja senhora do sereno, a apresentação principal era a cargo de cantora chamada Ana Costa. Se você não a conhece mas gosta de boa música, perde. Antes, na abertura dos trabalhos, fui apresentado a muitos intrumentistas que logo provariam sua virtuose, entre eles um jovem cantor que abriu o show para Ana Costa. Percussionista também, o cara dono de um carisma mil me contou que, apesar de carioca, vinha de Brasília há pouco tempo para morar por conta das oportunidades de trabalho. E aí se revela a grande pergunta: quantos como ele conseguem o que ele vem conseguindo? Morar numca cidade maravilhosa, porta do Brasil para o mundo, mas que ainda trata mal seus artistas não oferecendo espaços e principalmente oferecendo remunerações abaixo da qualidade artística de cada um.

Qual seria a saída para esse problema e como efetuar um upgrade nesse mercado e relação empregador e empregado são algumas questões. Numa conversa que tive com Sergio Ricardo, ele me contou sobre essa sua militância, em matéria que pode ser vista aqui  . A desunião, a falta de diagnósticos e de qualquer assossiação que responda sobre cooperam para a procrastinação da situação.

Enquanto isso, vamos de samba enquanto não há nada melhor pra aliviar a dor...

Workshops musicais na Lapa

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Um, dois, três, quatro, semínima na caixa e toma-lhe bastante jazz, salsa, samba, tudo com muita pausa e talento de sobra. Foi assim que o baterista Wilson Meireles começou seu workshop de bateria - ou "workshow", como ele mesmo disse - , na tarde de sábado (dia 9), na Escola de Bateristas Jorge Casagrande, na Lapa. O baterista que já trabalhou com Tim Maia, Gilberto Gil, Alceu Valença entre outros ícones, ainda estava acompanhado de um tecladista, com cara de menino mas com virtuose de cascudo que saiu sabe-se lá daonde. A apresentação toda foi com Wilson Meireles destruindo e esse cara entortando tudo, fazendo um baixo com a mão esquerda num KORG poderoso (vale procurar mais sobre esse músico que eu nào tenho o registro aqui mas, segundo constava em sua apresentação, tem trabalhos com a Roberta Sá além de um irmão tecladista na gig do Seu Jorge).

Ao longo do evento, além de muita qualidade, Meireles também conversou com os espectadores sobre música, experiências e até sobre sua trajetória na música "ao 15 anos decidi parar com tudo. Não sei porquê mas achei que esse negócio de música não era pra mim" disse ele, ainda bem para nós e para o Brasil que ele estava errado.

A iniciativa de Jorge Casagrande é uma das poucas numa cidade repleta de músicos talentosos e com história pra contar mas ainda trabalhando sem as condições adequadas ou sem espaço para divulgar seus trabalhos paralelos e ter uma proximidade com os fãs. A casa sempre apresenta oportunidades de aprendizado para os músicos que estão antenados.

Para ficar ainda mais por dentro dos eventos programados pela casa que, além de escola funciona também como estúdio de ensaio e gravação acesse o site clicando aqui. 

Jazz bom é aquele que você sabe menos quando termina do que quando começou

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"Pera aí, vou só trocar essa camisa por uma melhor ali e já volto pra gente conversar". Foi essa a última frase que algum músico que compões a gig formada por Danilo Sinna (sax), André Vasconcellos (baixo), Rafael Barata (bateria) e Bernardo Ramos (guitarra) falou antes de subir no "palco" para apresentar canções do cd instrumental "Dias de derrota e vitórias", de Danilo Sinna, nesta segunda (dia 11), à noite. Palco entre aspas porque na realidade a apresentação aconteceu numa igreja, a Batista Carioca, no Méier, Zona Norte do Rio.

A igreja começa a ser conhecida pelos músicos porque de dois em dois meses apresenta uma proposta chama "Jazz mandamentos", uma alusão aos " dez mandamentos" religiosos. Por lá já se apresentaram músicos como Willians Mello, Dada Costa, Juan Maximino entre outros num espaço para cerca de 200 pessoas, bastante acolhedor e confortável. O ambiente religioso sempre foi o berço da música de alto nível na história, seja com os mecenas, as batidas dos tambores ou até o canto gregoriano, inovador na época.

Na pauta da noite, além das frases e excelência dos músicos estava no ar a certeza de que a música de qualidade e bom gosto estava no seu lugar, como sempre esteve: na igreja.

Ônibus : ninguém merece

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Se você mora ou trabalha na Zona Oeste, irá concordar comigo.

Segunda passada fiz essa matéria falando sobre, além do problema do trânsito, o problema da insuficiência das linhas de ônibus, que não chegam como deveria até a Barra, Recreio, São Conrado, enfim, a Zona Oeste em geral, que é para aonde as empresas estão indo, com esse processo de esvaziamento do Centro da cidade, e levando assim seus trabalhadores, que precisam de ônibus, metrô e trem para chegarem lá - ou seja, tá tudo em falta. Sem falar da má condição que os motoristas e trocadores são submetidos. E hoje, como profecia, estoura essa greve.

Segue abaixo a matéria. Boa leitura.


São 8:15 da manhã e hoje é o dia que você, que mora no subúrbio, decide visitar sua tia, amigo, ou ir naquela reunião de trabalho ou social, lá na Zona Oeste, especificamente no belo bairro de São Conrado ou Gávea. Você faz coro para que o Rio de Janeiro seja uma cidade sustentável e de vanguarda, acredita nos transportes públicos e, por falta de carro, se vê forçado a ir de ônibus. Mal sabe você, caro leitor, que essa sua saga saindo de cascadura às 8:15 só terá fim às 14:15, quando for permitido pela cidade estar de volta em casa.

Que o transporte público não funciona no Rio de Janeiro (nem o de massa nem o de menor escala) todos sabem. Basta ver o trânsito, a lentidão e o desconforto sofrido por milhões de cariocas todos os dias em ônibus, metrôs e trens. Mas que a malha urbana está ineficiente e não atendendo mais ao estado, não só numericamente, mas como geograficamente, pode ser um problema novo.

Peguei o ônibus 465, Cascadura X Gávea, em seu ponto final, numa praça em cascadura, com destino ao shopping, às 8:15 em um dia de semana e, passando ainda pela Alvorada, na Barra, só cheguei ao meus destino às 11:40. Vale ressaltar que o calor insuportável e o trânsito caótico contribuíram para que uma menina ao fundo do ônibus cheio desmaiasse por conta de pressão baixa ou baixa taxa de glicose.

E se, chegando lá, após sua decisão tomada e tarefas concluídas, você more no engenho de Dentro e tenha que voltar para casa também de ônibus? Por conta do trânsito, a sugestão mais plausível seria pegar um ônibus até o centro, e de lá, um que iria para a Zona Norte. Pois então desafio aceito. Ao lado do shopping, descubro que a opção mais rápida é o ônibus de número 177, Gávea X Praça Tiradentes e entro nele. À essa hora, pode-se notar que pelo menos algo funciona: com as escolas municipais e estaduais em seus horários de saída, os ônibus da região funcionam quase como um transporte privado para os estudantes que tem livre acesso ao ônibus. Então lá vou eu, encarar trânsito do humaitá ao Catete, e chegar na Lapa à 13:20.

O Passeio, na região Central da cidade próximo aos Arcos da Lapa, é conhecido pçor ficar lotado nas horas de Rush por ser ponto final de muitos ônibus que vão para as mais variadas localidades do Rio, inclusive o 247, Passeio X Méier. Agora por volta de 13:00h algo inédito acontece: o ônibus está parcialmente vazio, mas o calor nunca esteve tão forte. Começo a conversar com a trocadora por que quase não se vê mais os automóveis, das linhas que ganharam a concessão para administrar esse lado do transporte da cidade, com ar-condicionado. Fico sabendo que só na empresa administradora dos ônibus para a qual ela trabalha, a Verdun, os processos criados por razão de problemas decorrentes do ar foram muitos:

— Já vi paciente dizendo que ia processar a empresa porque saiu tossindo. Já vi gente mandar deixar mais gelado porque havia pago os 0,20 centavos. Eu mesmo não aguento são 17º, me dá dor de cabeça. Uma amiga minha, quando terminou o plantão e ela desceu do 'carro', teve choque térmico e um problema nos nervos das mãos, teve que ficar fazendo fisioterapia durante três meses. Então por causa desses e outros muitos problemas todos os dias, acho que eles decidiram retirar os ônibus com ar-condicionado.

Conversa vai, conversa vem, chego ao Méier, bairro do subúrbio carioca e o trânsito é amigo sempre fiel na cidade maravilhosa. Desço do ônibus às 14:15, finalizando assim uma viagem com quase 60km rodados em condições precárias, desconfortáveis, aquém do valor da passagem paga. Todo esse sofrimento é bem distribuído em seis horas de estresse, tanto para os passageiros, quanto para os empregados (motoristas e trocadores). Recentemente, além da medida legal aprovada que permite o motorista acumular também o papel de trocador, agora a área profissional sofre uma espécie de 'entre-safra', e muitos estão sendo admitidos sem preparo ou condições. O problema do transporte na cidade vai além do conforto, e das condições mínimas de respeito ao grande público. Além do trânsito, com o crescimento de locais como Barra e Recreio e o "êxodo" das grandes empresas para a Zona Oeste, outro problema começa a surgir no Rio: a ineficiência do transporte público em servir a sociedade em escalas geográficas. A cidade cresce e se expande empresarialmente por conta de neo-liberalismo e o estado não faz sua parte.