setembro 2013

Viver

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A tradição Cristão ensina que para você ter uma vida saudável que possa ser considerada reta é necessário não adorar a nenhum outro Deus e amar ao mesmo acima de qualquer outra coisa. Há um único ser digno de ser adorado e um único digno do amor maior, da devoção suprema. Contudo, antes de qualquer coisa, se faz necessário entender o que é adoração. Em nosso idioma o ato pressupõe a veneração; no grego está relacionado a conotação de se aproximar do objeto adorado e beijar Sua mão; em hebraico, ajoelhar, dobrar-se diante do Senhor.

Existem muitos exemplos que mostram que a atitude de adorar pode ser feita de outras formas, acompanhada de vários ritos ou até em formatos subjetivos ou figurados. Não existe limite para a devoção, logo, não há a definição exata de adoração.

Há uma narrativa em um dos evangelhos da bíblia sobre uma mulher judia que com seu precioso dinheiro comprou um perfume valioso e o derramou gratuitamente aos pés de Jesus — o costume de derramar perfume aos pés de alguém ou sobre os lençóis só era habitual quando da noiva para o noivo na véspera das núpcias. Vendo aquela atitude, alguns levantaram a válida questão: "não seria melhor vender aquele perfume e alimentar os pobres?”. Jesus, que paradoxalmente quando queria ensinar perguntava, diferentemente de nós que quando queremos fazer o mesmo simplesmente afirmamos, perguntou o por que daqueles fariseus estarem enchendo o saco da pobre mulher, mostrando com essa reação que, quando se trata de adoração existe uma privacidade entre o adorador e o adorado, há uma ética inviolável que mostra a minha adoração como algo de fórum íntimo e a legitimidade do ato está relacionado a sinceridade do coração.

Entendendo esse princípio e levando em consideração a rigidez que nos norteia a uma fidelidade nessa prática, algumas vezes me pego imaginando o por quê nós que somos cristãos não levamos uma vida de adoração legítima. Muitas vezes somos sufocados de tarefas e afazeres necessários que nos impedem de montar uma vida diária com essa devoção. Uma vida é feita de dias, domine seu dia e você dominará sua vida, ensina a velha sapiência.

Muitas vezes me pergunto se o cotidiano, sendo algo pragmático, rígido, que esvazia tantos de suas energias e motivações, não seria o deus adorado de nossos dias. Talvez as metas e as pressões estariam roubando nosso alvo de adoração. Nossos objetivos e responsabilidades com trabalho e vida social estariam sendo o novo totem levantado num altar a cada dia da semana.

Uma das explicações do que seria adoração a Deus também é fazer o que não seria feito para mais ninguém. Há quanto tempo você não ora antes de dormir, se ajoelha em algum lugar, não sorri pro céu ou diz que ama ao seu Criador?

Pense nisso. Não deixe que o cotidiano massante ou a prisão das responsabilidades, por mais válidas que sejam, venham a assumir seu maior tempo de vida, seus melhores dias de vida, sua qualidade de vida e nem o sentido da sua vida. O sentido da vida é se relacionar com Deus. A forma, você escolhe.

Como diria Galeano

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Não sei se é notório que todo judeu é bem sucedido profissionalmente ou goza de relativo pleno êxito em sua área financeira. O fato de que a maioria do povo de origem e tradições judaicas é rico ou ocupa os cargos mais elevados é recorrente na história. Reza a lenda de que a segunda guerra mundial flertou com esse motivo.

Recentemente um livro foi lançado tentando interpretar e descobrir a razão dessa verdade. Qual o segredo que sempre posiciona judeus em cargos elevados e posições de relevância nas sociedades ocidentais e orientais foi a pergunta que norteou a obra. A resposta sugerida está numa espécie de pacto oral que a comunidade judaica fez em 67 depois de Cristo, que, segundo o escritor, assegurava que a partir de então todo judeu teria que aprender a ler, ter a capacidade de interpretação para examinar a torah (os cinco primeiros livros da bíblia) e a história de seu povo até ali. Daí, então, o possível motivo de ser quase unânime o sucesso entre eles.

Pensando cá comigo (eu entendo que seja deselegante mas permita-me as perguntas a seguir): não é intrigante que um "mundarel" de jovens no Rio de Janeiro não sabem o quão sua cidade é importante? Não conhecem a história de seu país, o processo de colonização do Brasil? O fato da América Latina ser provavelmente a região mais rica em natureza, beleza, cultura, valores naturais do universo? Por que nossa cultura não anela pelo planejamento? Como uma cidade como Tóquio pode produzir mais lucro turístico do que o Rio? É intrigante não conhecermos nem a história da nossa família, sendo assim, poderíamos analisar por quê estamos aqui, qual o propósito dos antepassados quando aqui estiveram. Seria bom olhar a "big picture", pensar fora da caixa, longe dos padrões convencionais e superficiais, para ver se a nossa atual situação econômica, social, emocional é legítima ou uma herança justa.

É perplexo ver, ainda hoje, alienação da juventude do Rio de Janeiro quanto ao poder, a política, a postura exemplar e o desafio de ser modelo para quem está ao seu alcance.

Como diria o escritor Eduardo Galeano "quem não conhece sua história está fadado a repeti-la". Ao que parece, se as coisas continuarem acontecendo e nada for feito, mais 500 anos de insuficiência, injustiça, alegrias e realizações privadas é o que está porvir.

Conheça sua história, conheça seus direitos, interprete seu tempo, faça a diferença. Você pode.

Tudo que a mente humana é capaz de imaginar, é possível ser feito, é o que ecoa a história aos ouvidos dos atentos.

Adeus, Champignon

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Cazuza profetizou que nossos heróis " morreram de overdose". Se temos como heróis pessoa idênticas ou não é outra questão. O fato é que os heróis (e quando digo heróis não é no sentido onírico da palavra, e sim prático, digo referência) estão morrendo, desfalecendo. Os ídolos estão sendo desfeitos porque todo ídolo é criado e sustentado pela adoração e, nessa galeria de heróis mortos brasileiros recentes, poucos são os que tem conseguido isso: sustentar uma influência que dure alguns anos na vida cotidiana das pessoas. Como referências, eles normalizam práticas, e as práticas que os levaram até a morte são justamente as que não devem ser normalizadas. É irônico ver que estes, que emprestaram tanto sabor a vida, também trataram com pouca reverência e carinho a mesma. Gostava muito do Champignon, ex-baixista do Charlie Brown Jr., a banda que mais fez minha cabeça e moldou meu estilo de ser na juventude, que provavelmente se suicidou com um tiro na ultima madrugada, mas o fato é que precisamos de práticas, atitudes e postura melhores diante da vida. Precisamos de pessoas que sejam referência em construção de caráter, família, respeito e sonhos, não em destruição. Precisamos de novos ídolos. Procura-se novas referências para uma geração órfã, que ainda tem buscado em pleno 2013, ídolos da década de oitenta e noventa.

Calendário virtual

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O facebook não pára de agregar valores e funcionalidades para si. O livro dos rostos que começou branco e sem sal, com a simples tarefa de ser um local comum entre amigos com a possibilidade de rever velhos conhecidos, hoje já é lugar comum para disseminar ideias, propagar marcas, fazer merchandising, pesquisar opinião, ter relacionamento com outros, lembrar aniversário de seus amigos e até um excelente e eficiente porta-voz para relacionamentos. Essa deslocada tradição de avisar, contar para a família, dizer como a menina é para as pessoas, do que ela gosta é coisa do passado. Basta alguns cliques que o face faz isso tudo na hora e com mais precisão (eu tenho sido prova disso).

Agora, ao que parece a mais nova tarefa que aparece na nossa timeline é avisar a quem o dia é destinado hoje. Alguém aqui sabia ou já tinha comemorado o “dia do irmão”? Há quem diga que Zuckerberb tem passado seus dias gelados, solitários e podres de rico inventando esses dias só pra dar uma movimentada nos assuntos nessa era pós “Quantas curtidas essa princesa merece? Se atingirmos mil acabaremos com a fome na África!”. E hoje, como vocês bem sabe é dia do ALFAIATE. Ok, ok, dia do sexo também. Talvez caiam no mesmo dia pela necessidade da intimidade com o corpo que as duas comemorações sugerem.

Essa ligação está sendo gravada

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Acordei e vi aquelas gotas escorrendo com preguiça pela janela. Era a chuva. Um convite para se reconciliar com o sono e se arrepender de ter transgredido a lei do sonho, que é acordar. Mas não consegui enquanto lembrei que acordara com um falatório, uma discussão do meu pai com o telefone. Pra mim, um monólogo. O cara tava discutindo, expondo vários argumentos contra a má qualidade na prestação de serviços da companhia de telefonia que assiste à minha avó, na sua casa.

Há mais de duas semanas que minha amada vovó e suas outras muitas vizinhas velhinhas estão sem telefone por um problema local e nenhuma providência é tomada. A situação é tão grave, mas tão grave, que nesse ínterim foi meu aniversário e a matriarca nem me ligar pode. A explicação da representante da empresa é que o problema é com uma firma terceirizada, e seria para eles que as reclamações teriam que ser direcionadas. Como cara-de-pau só tem sucesso quando não tem parte com a burrice, meu pai fez questão de lembrar que o contrato e o pagamento não são feitos a nenhuma empresa terceirizada e sim a eles, logo, cabe aos próprios resolver essa chatice.

Chatice essa que se estende atá aqui nesse texto mas agora se finda. Comentei tudo isso para sugerir minha nova especialização, curso, doutrinação ou seja lá qual for o nome que isso possa levar na grade curricular do ensino médio nacional. A iniciativa privada, as empresas, até as PPP's estão cada vez mais tomando conta da sociedade seja por meio de concessões ou omissão do estado. A cada dia fica mais claro e firme no inconsciente popular a dor de cabeça que é ligar para uma dessas prestadoras de serviço querendo cancelar ou comprar um serviço novo.

Não raramente as experiências, enxurradas de processos e piadas que envolvem a voz dos representantes dessas companhias tomam conta das conversas quer seja numa festa ou num almoço de domingo. Olhe ao seu redor e veja se você não conhece ao menos uma pessoa que trabalhe em um desses call center da vida. Não cessa o crescimento da demanda de mão de obra nessa área, assim como não diminui a relevância dessas empresas e as nossas necessidades, enquanto sociedade, num estilo de vida que cresce desenfreadamente misturando cada vez mais o que é seu privado com o público, criando literalmente uma rede de informações que, se cruzadas, definem exatamente quem nós somos — wikileaks, espionagem norte-americana é barbada! Profissional nesse ramo são os atendentes da c&a, pessoas que fazem cartões ou as redes sociais na tela do seu gadjet.

Pois bem, a minha sugestão, então, é que troquemos alguma dessas matérias retrogradas da escola e que não ensinam nada no final das contas, como matemática, história, geometria por uma disciplina que eu denomino “Como se comportar diante de um call center”. Que tal? Imagine uma nova geração equipada, que conhece e domina as aspirações e ofertas avassaladoras que virão do outro lado da linha antes mesmo delas serem ditas. Pense como seria melhor uma multidão de pessoas que conhece o comportamento e as intempéries que se armam numa dessas conversas, ate então inofensiva, para cancelar uma assinatura. Você há de concordar comigo o quanto de tempo, estresse e energia isso nos pouparia e que tudo isso convergiria para um estilo de vida melhor.

Pois bem, fica registrado minha sugestão, uma vez que no futuro nacional, esse domínio por parte das empresas só tende a aumentar se continuar esse governo que é de esquerda, de berço socialista, mas que vendeu o país para a iniciativa privada em um antro de corrupção...


...Pensando melhor, talvez outras matérias além desta teriam que ser adicionadas no colégio para poder entender essa vida melhor.

E viva a internet

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Às vezes me pergunto se alguém na cidade maravilhosa está maravilhado com o conteúdo da nossa tevê. Maravilhado soa, talvez a você, exigente, pedir-demais, então satisfeito ou agradado seria melhor. Há de haver alguém, além dos envolvidos, que aprovaria a qualidade de informação e programação veiculada nessas concessões públicas que, em teoria, teriam como dever propagar com qualidade no formato e essência o interesse público e o interesse do público também.

Como gosto de perguntas, me pergunto se alguém está satisfeito com a saúde ou a segurança na cidade. E a política como um todo. Já me peguei perguntando-me sobre até a educação; e a religião, por quê não? “Será que Jesus assistiria a Record” pode ser considerado heresia...

Esse formato comunicacional, na era da informação não processada, mal interpretada, no século da comunicação após o boom dela na segunda metade do século passado tá dando o que falar e pode ser pauta para os Fantásticos e Globo Repórteres futuros da vida (se é que eles resistirão até lá).

Quando muito filosófico, paro e percebo que apesar da maioria das respostas levarem a um desagrado geral com a vida social na minha cidade, nada muda. O que me encoraja a perceber que as pessoas não gostam muito de se fazer perguntas. Uma vez entrevistei o Ruy Castro e ele me disse que se o Brasil não tivesse carnaval todo ano, então, já teríamos tido umas 45 revoluções. Faz sentido...

A novela por exemplo... A vida imita a arte, ou a arte imita a vida é a pergunta que ecoa pra todo dramaturgo. Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais, era o jargão daquela propaganda. O quê de bom, efetivamente, uma novela super bem produzida e interpretada, como as nossas, já proporcionou de bom para alguém que não está diretamente ligado a ela é outra pergunta que me veio a mente agora. Tirando os atores, os merchandising atrelados a iniciativa privada, a instituição que veicula os folhetins que ganham dinheiro, status e fama, o que o povo ou o público ganha com isso, me permita a interrogação nesse texto.

Se por um acaso há alguma discordância nesses pensamentos entre eu e você, sinta-se desafiado a procurar, na tevê aberta ou fechada (que é uma extensão ridícula da mediocridade exibida nos canais abertos) uma sequência de programas bem feitos e com conteúdo no mínimo unanimemente aceitável.

No jornalismo, por exemplo, parece cada vez mais existir uma maior margem entre a informação e o fato, obviamente por questões políticas, financeiras e de interesse. O que é triste, como todo jornalismo. Qual verdade há nas reportagens sobre as manifestações que assaltaram subitamente as ruas do Brasil, ou qual a verdade que há na cobertura política, na vigilância do poder ou na mediação entre o Estado e as pessoas, se pergunte agora comigo.

Na faculdade de jornalismo a qual faço, que surpreendentemente entrou em greve quase por todos os motivos possíveis, existe uma minoria de alunos acampados na reitoria. Em outras palavras é a síntese da crise do ensino superior ao longo do país , mas esse é outro assunto. Estive lá com meus amigos, prometi tentar fazer algo por nós. Conversei com assessores da secretaria municipal de educação, deputados estaduais, federais, ex-mantenedores da instituição pessoalmente ou por telefone e todos eles, sem exceção, informados pela tevê, estavam sendo enganados acerca da atual e verdadeira situação da faculdade, a mesma que foi objeto de matérias e mais matérias de um sem número de emissoras.

Alguém se atreveria a dizer até que o jornalismo televisivo é o maior programa de ficção que já existiu. Mas não é pra tanto, nem pra pouco. Zapeemos com nosso controle e no melhor da lei da oferta e procura acharemos conforto audiovisual. E viva a internet.