agosto 2011

Filho de peixe...

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"Caso os brasileiros não se decidam pela análise da história e a pensar além do que dizem alguns setores da mídia, breve nos tornaremos uma segunda Venezuela. Já temos nosso Chávez"




A família dele parece ter faro por polêmica. Não pela gratuita, louve-se esse ponto, mas pela polêmica forma de proteger e defender seus ideais. Desde o início do ano, seu pai, o dep. Federal Jair Bolsonaro (que conseguiu 120 mil votos na cidade do Rio de Janeiro nas últimas eleições e, pasmem, já foi preso durante quinze dias por ter liderado uma manifestação por melhoria dos soldos dos militares, quando capitão, além de já ter sido intitulado como indigno de um oficial de exército por conta de sua postura protestante) se vê sendo acusado de homofóbico, preconceituoso e outros etceteras.

O dep. Estadual Flávio Bolsonaro, filho do homem referido acima, já mostrou que honra a família. Entre suas posições polêmicas estão, por exemplo, a redução da maioridade penal, a defesa de pena de morte contra crimes hediondos e a luta contra as cotas raciais nas universidades. Em sua curta, porém já movimentada carreira política — Flávio tem 30 anos e é dep. Estadual pelo Rio desde 2003 — ele requereu a criação de Comissão Especial que acompanha o cumprimento da Lei de Transparência nos gastos públicos no Estado e no Município e foi presidente da Comissão de Segurança Pública da ALERJ, quando foi destituído do cargo, segundo seu site, “por ter causado desgaste ao Governo do Estado por investigar a influência do então Secretário Estadual de Esporte e Lazer, Chiquinho da Mangueira, junto ao 4º BPM, para que as ações ostensivas da Polícia Militar fossem reduzidas no morro da Mangueira, pois estariam atrapalhando o comércio de drogas local.”

Na entrevista abaixo, Bolsonaro realça que é incentivado em suas posições apenas pela busca de igualdade entre todos. Quando perguntado se desejaria que vivêssemos numa ditadura afirma que “ isto não é preciso... Estamos caminhando a passos largos nesse sentido. Caso os brasileiros não se decidam pela análise da história e a pensar além do que dizem alguns setores da mídia, breve nos tornaremos uma segunda Venezuela. Já temos nosso Chávez” , além de nos convidar a examinar todos os grandes jornais do dia 1º de abril de 1964, época do golpe militar, para que se veja que todos eles enalteciam o acontecimento. De fato, “Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos” “- O globo ; “A população de Copacabana saiu às ruas, em verdadeiro carnaval, saudando as tropas do Exército. - O Dia ; e a “A paz alcançada.” do O Povo são algumas das manchetes do dia. 
Confira a entrevista desse deputado que, na última semana foi vítima, segundo o próprio, da “patrulha do politicamente correto e dos preconceituosos que colocaram palavras em sua boca” sobre o caso da juíza Patrícia Lourival Acioli, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo (RJ), morta a tiros na madrugada desta sexta-feira (12), quando ele colocou em seu twitter que ela "humilhava gratuitamente réus", o que teria, segundo ele, contribuído para que ela tivesse inimigos. O que no mínimo, pegou mal...





Etc.e.Tal. – dep. Estadual Flávio Bolsonaro
Por Bruno Almeida


Etc —
 De acordo com algumas teses de sociologia, a sociedade ocidental se baseia em alguns pilares,  dentre os quais situam-se religião, leis e família. Segundo seu entendimento, consoante a linha de pensamento de seu pai, Deputado Federal Jair Bolsonaro, o “PL 122” pode ser considerado um risco à família brasileira ou um problema para algum dos referidos pilares?

Bolsonaro —
 Se adotada a premissa constante da questão formulada, provavelmente relacionada aos círculos concêntricos propostos por George Jellinek, onde a religião, a família e as leis seriam instrumentos de controle social – destinados a permitir a vida em sociedade, de fato, diplomas como o PL 122 poderiam constituir-se em graves problemas sim - menos pelos aspectos morais ou éticos nele contidos, que pelo desequilíbrio jurídico ali estabelecido. Efetivamente transformado em lei, o referido diploma, além de situar o público GLBT em condição de enorme “vantagem” legal sobre todos os demais cidadãos, abriria precedentes para injustiças, abusos e fraudes.
O arcabouço jurídico em vigor já protege a TODOS os cidadãos e assim deve ser. Não seria coerente ou justo, em nome do combate ao preconceito, criar instrumentos ainda mais segregacionistas ou preconceituosos.



Etc —
 Levadas em consideração ditaduras como a uruguaia e argentina, poder-se-ia dizer que, em relação à estas, a brasileira tenha sido mais branda em todos os sentidos? O Sr. Gostaria de reviver a ditadura brasileira atualmente? Por que?

Bolsonaro —
 Antes de mais nada, é interessante observar o contexto histórico dos fatos. Caso V. Sª. tenha o interesse em fazer uma pesquisa mediante o uso da “internet”, consultando TODOS, repito, TODOS, os jornais de grande circulação do dia primeiro de abril de 64, e dias imediatamente seguintes, verificará que houve festa em todas as capitais quando do êxito do movimento de 31 de março. Perceba que não há como questionar a liberdade de imprensa no período referido, uma vez que o país vivia à margem de uma convulsão social que, pretendiam alguns, levaria ao estabelecimento, aqui, de uma ditadura comunista aos moldes de Cuba. Por favor, não acredite em minhas palavras, leia os jornais e revistas da época. Assim, aqueles que tiveram seus propósitos impedidos pelo movimento jamais foram democratas e tinham seus planos financiados e cuidadosamente orientados pela antiga URSS, pela China e por Cuba. Tal fato não pode ser escondido, embora exista um complô para torná-lo, com o tempo, em mentira. Basta a pesquisa dos currículos de homens e mulheres que, à época, atuavam na guerrilha, que aparecerão as referências aos cursos e períodos de “estudos” passados naqueles países.
Feito o preâmbulo acima, fica evidente minha discordância quanto aos males resultantes do movimento de 64. Afinal, vitoriosos os radicais de esquerda de então, estaríamos, de fato, vivendo uma ditadura – ou alguém concorda com o ex-Presidente Lula, seus principais ex-Ministros e com as principais figuras do atual governo quando afirmam que Cuba e Venezuela são modelos de democracia para a América?
Não há como negar que houve alguns excessos. Vale observar que, mesmo dentro da esquerda, ninguém jamais falou em mais de quinhentos desaparecidos. Se comparado ao número de pessoas que o próprio “herói” Che Guevara fuzilou pessoalmente, com sua colt .45, como, aliás, sentia prazer em fazer, ou com as dezenas e dezenas de milhares de mortos e desaparecidos na democracia cubana, de fato o que houve aqui foi muito mais brando. Mesmo durante o período mais duro do combate aos radicais de esquerda, o Judiciário seguiu funcionando e sendo respeitado e inúmeros foram os casos em que militantes da luta armada foram por ele libertados – apesar de terem praticados diversos crimes.
Não quero fazer comparações com Argentina, Uruguai ou outros países onde a implantação de ditaduras comunistas foram, igualmente, tentadas naquele mesmo período. Cada país tem sua realidade e vive seus próprios problemas.
Quanto a desejar a volta de uma ditadura, isto não é preciso... Estamos caminhando a passos largos nesse sentido. Caso os brasileiros não se decidam pela análise da história e a pensar além do que dizem alguns setores da mídia, breve nos tornaremos uma segunda Venezuela. Já temos nosso Chávez.



Etc —
 Duas semanas antes de sua eleição na Inglaterra, Tony Blair gangou uma eleição pública como “a pessoa mais odiada do país”. Ilustres como Saramago diziam que vivemos numa “falsa democracia” aonde o povo não tem participação, a não ser a longínqua e ineficiente quando se trata de decisões. Para o senhor, nos moldes atuais, existe uma disfunção da democracia nacional?

Bolsonaro —
 Embora por argumentos distintos, entendo sim. Interessante observar que, ainda ano passado, havia quem defendesse, no próprio Congresso, a ampliação da participação popular como sinônimo de democracia. Alguns daqueles que defendiam tal tese, citavam, como exemplo, as consultas populares realizadas na Venezuela. Sobre tal proposta é prudente lembrar que seria impossível a realização de consultas populares ante cada necessidade. Ademais, o sistema enfraqueceria o sistema de representação, constituído, no Brasil, pelo Senado e Câmara de Deputados – facilitando, ainda mais, o estabelecimento de regimes populistas autoritários.



Etc —
 Sua família tem sido criticada negativamente por conta de polêmicas, quando, na verdade, um número considerável da população normal propaga ou concorda com a posição de vocês, só que verbalizando-a de uma outra maneira. Por que isso acontece? Somos uma geração hipócrita ou uma mídia tendenciosa?

Bolsonaro —
 Na verdade, os temas atualmente objeto de discussão ou polêmica somente passaram a ser abordados pelo Deputado Federal Jair Bolsonaro a partir do final do ano de 2010, tendo em vista impedir que segmentos do governo distribuíssem, nas escolas, material inadequado e tendencioso voltado ao público infanto-juvenil.  Os veículos de mídia utilizados pelo Deputado foram aqueles que lhe concederam espaço para a realização das denúncias sobre o fato à sociedade brasileira – que seria surpreendida pelas medidas em vias de implementação. Sobre as abordagens polêmicas ou sensacionalistas, constituem-se na única estratégia capaz de permitir ao Deputado driblar a censura imposta por boa parte da mídia e que impede a denúncia ou a discussão de temas que contrariam interesses de segmentos que, mercê das enormes quantias que envolvem a propaganda do governo e das estruturas que gravitam em torno do mesmo, vivem em discutível relação de interdependência.
Felizmente, com a divulgação permitida pelas denúncias do Deputado Bolsonaro, a verdade sobre o material veio à tona e a Presidente não teve outra saída que proibir a distribuição daquilo que o Deputado denominou como “kit gay”.
Quanto à sociedade, na verdade, sua esmagadora maioria é conservadora e pensa como o  Deputado Jair. Parece absurdo que segmentos da mídia e alguns políticos sigam ignorando o que pensam os brasileiros e insistam em distorcer o foco do discurso de Bolsonaro – como se fosse possível uma “lavagem cerebral” nos brasileiros no sentido da adoção das teses dos ativistas do grupo LGBT. O fato é claramente perceptível quando, a cada crime praticado contra homossexuais  surjam, imediatamente, associações dos fatos com a figura de meu pai – que jamais foi homofóbico ou defendeu a violência, limitando-se a manifestar sua opinião quanto aos riscos da inversão de valores que pretende atribuir virtudes ou motivo de orgulho à homossexualidade. Aliás, praticar esta ou aquela opção sexual, por si, deveria ser motivo de orgulho? Nesse caso, o pai de Fernandinho beira-mar, a despeito da vida de crimes de seu filho, poderia vangloriar-se da formação do mesmo por haver resultado hétero!



Etc —
 Sr. Bolsonaro, o senhor pertence ao Partido Progressista, apesar de ser acusado de ter posições ultra-conservadoras, como ser contrário ao aborto. É um deputado notoriamente contra políticas assistencialistas. O que acha do governo do PT, até aqui, que antes, sempre militou contra essas atividades assistencialistas por parte dos demais governos, acusando-os de comprarem votos e hoje fazendo a mesma coisa?

Bolsonaro —
 Quem fizer uma retrospectiva sobre as posições do PT durante sua trajetória na vida política nacional perceberá, claramente, que esse partido já mudou, por diversas vezes, suas posições no que concerne aos mais importantes e “inegociáveis” pontos de sua linha. Ocorre que, quando, em algum momento, assumem posição oposta ou divergente de suas convicções históricas, o fazem apresentando justificativas que, raramente, são questionadas pelos militantes integrantes dos núcleos mais ideológicos e, invariavelmente, em atendimento aos interesses relacionados à manutenção, a qualquer custo, do poder e das fontes de arrecadação de recursos.  É simples, assim, o PT conseguiu instalar no país a maior estrutura de arrecadação de recursos, controle e concentração de poder jamais imaginada anteriormente. O triste é que o objetivo de tal esforço, que vem sendo perpetrado a qualquer custo (vide os incontáveis escândalos creditados ao PT) parece favorecer, tão somente, à perpetuação no poder do grupo nele instalado.



Etc —
 O senhor é evangélico, da Igreja Batista, o que tem a dizer sobre os deputados estaduais evangélicos que, recentemente, votaram favoravelmente ao PL 122, diferentemente do senhor?

Bolsonaro —
 Inicialmente, cabe uma correção: o PL 122 tramita em Brasília, no Congresso Nacional. Aqui na ALERJ foi votada a PEC 23 que pretendia modificar a redação do artigo 9º, § 1º da Constituição Estadual, de forma a acrescentar no texto a expressão “orientação sexual”. Ao votar, desde o primeiro momento, considerei os riscos decorrentes de inserir conteúdo desnecessário e, na verdade, gerador de preconceito, no texto constitucional.
Sobre a votação, vale lembrar que a PEC é datada de 2007 e, coincidentemente, foi colocada em pauta no momento em que o governo do Rio lançava um programa contra a homofobia que recebeu milhões de reais em investimento – recursos que, certamente, fariam grande diferença se aplicados na caótica condição em que se encontra a rede de atendimento à saúde.
É prudente observar que uma PEC, para ser aprovada, necessita, obrigatoriamente, passar por duas votações – exatamente para que os legisladores confirmem estarem votando corretamente ou reavaliem suas posições.
Assim, na primeira votação, apenas eu e o Deputado Estadual Edson Albertassi percebemos os riscos do Projeto – inserido em um contexto nacional voltado ao estabelecimento de privilégios para determinado segmento em virtude de sua orientação sexual. Como se não bastasse a separação dos brasileiros por raças,  mediante injustos critérios de cotas, pretende o mesmo grupo, interessado na dissociação do sentimento de brasilidade e na destruição dos valores que alicerçam o Estado brasileiro, criar nova separação – agora pela preferência ou opção sexual.



Je Suis Carioca!

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Já imaginou  a música de João Gilberto cantada em francês? Um beco das garrafas no interior de Paris? Um barquinho no Rio Senna? Pois então, o cantor, compositor, boêmio e apaixonado pelo Brasil, Nicola Son, lançou seu CD intitulado “Parioca” ( uma mistura das palavras Paris e Carioca) que nos dá uma breve ideia de como seria esse "fenômeno". 






Marcando sempre presença no nosso país( a internet faz parte do sucesso dele), Nicola Son, filho de franceses e parisiense, começou seu romance com a terra tupiniquim quando, ainda criança, ouviu a música “Lígia'” – de Tom Jobim – numa coletânea de Jazz que seus pais ouviam. Teve seu namoro com nossa cultura selado quando conheceu o som de Jorge Ben Jor “ O primeiro CD do Jorge “Samba esquema novo” foi uma revelação enorme para mim. Maior do que a bossa nova” . Depois mais velho, com cerca de 20 anos, veio para o país descobrir mais sobre a cultura de quem então figurava nos rádios de sua casa na França.

Desde então, Nicola coleciona viagens ao Brasil e já tem dois CD’s em sua carreira. Antes do “Parioca”, ele divulgava um outro CD somente em seus shows na França, mais como um cartão de visitas segundo ele próprio. Em novembro o artista que residente na França estará de volta ao Brasil para gravar seu mais novo trabalho que terá mais elementos da música nordestina e para se apresentar mais vezes ao público que ele ama e que o recebeu melhor do que os próprios franceses "A divulgação pela internet foi algo de importância ímpar para mim", diz ele com seu sotaque indefectível.

Conheça um pouco mais sobre Nicola Son, o músico responsável em nos fazer acreditar que, se por um acaso, a bossa nova tivesse sido criada na França, não estaria nada mal representada.




Etc.e.Tal. – Nicola Son
Por Bruno Almeida 



Etc — Quantos anos você tem e está no Brasil há quanto tempo?
Nicola — Na verdade, eu moro em Paris, então falo das minhas viagens no Brasil : desde 2003, fiz varias viagens que duraram entre seis meses e três semanas. Ao todo, acho que passei um pouco mais de 1 ano e meio. A partir de novembro ficarei novamente por seis meses.






Etc — E por que você veio para cá?
Nicola — O primeiro motivo era pra fugir de um problema sentimental e escolhi o Brasil porque fazia tempo que queria conhecer esse pais,  apesar de já conhecer um pouco da língua. Logo que cheguei me encantei muito com a musica, sobretudo o samba que não conhecia muito bem. Na Europa, a gente sabe muito mais da bossa nova do que o samba. Então a acho que fui pra descobrir o país, conhecer a cultura (idioma e musica) e ter uma experiência internacional.




Etc —  Quantos discos já lançou?
Nicola —  Esse Parioca é o primeiro. Já lancei um CD com quatro canções na França em 2005, mas que não foi distribuído nas lojas, somente nos shows. Funcionava mais como um cartão de visitas…



Etc — Muitos 'gringos' ao chegar no Brasil se encantam com o jeito do nosso povo, as formas de lidar com os problemas e a recepção brasileira. Ao que parece, no seu caso, o que mais te impressionou foi a música, correto? Qual foi a primeira informação musical brasileira que te 'chocou'?
Nicola — Ah... Me encantei também com “tudo que fala”. Mas é verdade que o que me interessava era a musica mesmo. Musicas que me 'chocaram' são muitas !!! Sempre falou da historia de "Ligia" que fazia parte de uma coletânea de jazz dos meus pais e que detonava com as outras musicas que tinha no CD. Esse foi meu primeiro choque. Porém não posso esquecer também do CD do Jorge Ben chamado "Samba esquema novo", que foi uma revelação enorme, certamente mais do que a bossa nova pra mim! Gosto também de Orlandivo, Di Melo, Marcos Valle, etc...Também nessa época, era ainda muito ligado com a Funk/Soul americana, e nessa época do começo dos anos 2000, me lembro de uma coletânea que saiu na França também que se chamava "Samba Soul 70" onde tinha tantas perolas de samba funk / samba soul. Ainda hoje escuto muito essas musicas.




Etc — Você já levou esse seu som 'abrasileirado' para a frança? Como foi a recepção?
Nicola —  O disco Parioca foi lançado primeiramente  na França, em maio 2010. A recepção foi boa mas muito mais devagar. As coisas aconteceram passo a passo na França. A turnê na França ,por exemplo, só vai começar em setembro 2011. O problema que eu tenho é que aqui tudo é muito categorizado. Demorou muito pra achar uma assessoria de imprensa por exemplo, e até um distribuidor porque ninguém sabia aonde botar o CD : música francesa ou world music?! O problema que tenho, ainda hoje, é que na verdade, o trabalho pode ser classificado como nenhum dos dois ou os dois no mesmo tempo !!! Ai complica as coisas para a indústria musical.




Etc — Sua maior referência na música brasileira?
Nicola —  “Ouhlala”.... Maior referência ??? Caramba tenho tantas! Pelas letras acho que seria o Chico Buarque, pelo groove, Jorge Ben e pela completude da carreira e a variedade das músicas o Caetano Veloso. Mas amo chorinho, musicas nordestinas, composições de varios sambistas também... Então é muito difícil responder uma pessoa só referência.



Etc — A relação cultural entre Brasil e França é verdadeira, porém, ainda há o preconceito por parte de alguns brasileiros de que os franceses, generalizando, se portam de uma forma 'esnobe', 'metida'. Em algum lugar, você já foi tratado diferentemente por causa disso?
Nicola —  Não. Essa fama é a fama dos franceses na França em relação com os turistas eu acho. Em termos de intercâmbio cultural, não acho que existam esses preconceitos. Sou francês mas não liga pra essas coisas. Tento fazer a minha música da forma mais original  que puder e quem não curte tudo bem…


Etc — Qual o maior sonho artístico para você?
Nicola —  Que a vida sempre me dê a possibilidade de realizar todos os meus sonhos: criar, cantar e poder viver disso até morrer. Tenho tantas idéias e projetos que quero realizar… Se quiser uma resposta concreta, seria  trabalhar com Chico Buarque, Edu Lobo, Paulinho da Viola, ou Charles Aznavour... Todos esses artistas que admiro e que me inspiraram.




Etc — Ouvindo você tocar surge a sincera dúvida de que se a bossa tivesse existido na França ela  estaria tão bem representada quanto aqui no Brasil. O que mais te identifica nesse estilo: a melodia e a harmonia ou a mensagem que carrega o cotidiano carioca?
Nicola —  Com certeza a harmonia e melodia. A mensagem faz parte mas quando canto em francês não boto essa mensagem porque em francês não faria sentido. Tenho que contar outras coisas pois temos outras referências culturais. Não significaria nada para um francês a tradução de "Um barquinho", por exemplo.



Etc — Sempre ao fim das entrevistas, dou espaço para o entrevistado falar o que quiser se isso não foi possível por meio das perguntas. O que você gostaria de dizer...
Nicola — Nada menos que volto em novembro pra fazer mais shows no Brasil e gravar o meu segundo disco que vai ter muito mais a ver com a música nordestina. Que amo o Brasil e o povo e que estou muito honrado de ter tantos bons retornos dos brasileiros sobre o meu trabalho... Mais do que os franceses!

Amanheceu

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É certeza concreta, firme como rocha
imóvel como bloco de cimento a fé de que
algo está para acontecer:
um romper,um nascimento, uma boa nova.

A esperança divide o um quarto da vista já marejada
com a desilusão
mas se do olho sai lágrima
é certo também que um dia será molhado o deserto do coração

um órgão, uma emoção
um tesouro que tem que ser protegido e se sabe de cor
e que é mais exposto
como o que se tem de melhor, tendo também o de pior

Enfim, no fim a chuva lava o que ficou
no meio, se olha para o futuro
sabendo-se que o presente, então,
é um presente da boa nova para o coração

Martha, camisa 10

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Martha Medeiros pretende lançar livro no início do ano que vem e acredita que sua honestidade em seus textos pode ser o que encanta os seus leitores




  O nome Martha parece ser prenúncio de coisa boa. Num pensamento rápido, vem à memória a Marta, a da bíblia e contemporânea de Cristo; Martha Washington, a 1ª primeira dama dos Estados Unidos, a, então, potência mundial, e a Martha, craque camisa 10 da seleção brasileira. A martha da qual falaremos agora não é nenhuma dessas, mas não deixa de ser uma craque: a das letras.

A Martha Medeiros referida é a que você conhece dos livros “Feliz por Nada”, “Divã”, “Doidas e Santas”, das colunas do jornal Zero Hora e daquela sua leitura obrigatória de domingo da revista do O Globo e que concedeu essa semana uma entrevista para o Etc.e.Tal.

Nela, a escritora falou de como começou na profissão do mundo das letras e sobre o livro sobre relatos de suas viagens que ela pretende lançar no início do ano que vem. “Tudo biográfico mesmo. Não será um livro de roteiros e dicas, e sim de registros, imprevistos e descobertas.”

Vai dizer que você nunca ficou embasbacado depois de ler uma de suas crônicas ou que nunca recortou um artigo dela para mostrar para suas amigas? Abaixo, a sofisticada e popular, Martha Medeiros.

"Gostar de alguém é função do coração, mas esquecer, não. É tarefa da nossa cabecinha, que aliás é nossa em termos: tem alguma coisa lá dentro que age por conta própria, sem dar satisfação. Quem dera um esforço de conscientização resolvesse o assunto (...)."
- Martha Medeiros




A escritora Martha Medeiros tem, entre romances,
crônicas e poesias, 20 livros lançados na carreira




Etc.e.Tal. – Martha Medeiros
Por Bruno Almeida 

Etc — O que diria aos que desejam se aventurar como escritores? Há uma receita a seguir? 

Martha —
 Eu diria para serem bem honestos ao se perguntarem: tenho o dom mesmo ou é só uma vontade? Se o dom existe pra valer, sugeriria que fizessem uma oficina de literatura, que já foi a porta deentrada de ótimos escritores, e que mantivessem um blog, algo que os fizesse praticar a escrita diariamente. E ler muito, muito. Ah, cruzar os dedos ajuda também.   




Etc — 
Corrija-me se estiver errado, mas, ao que parece, você era publicitária e durante umas férias, escrevendo alguns poemas é que se decidiu ser escritora como profissão. Imagino que a escolha tenha sido tardia. Como foi se transformar na profissional Martha Medeiros de hoje? O acaso ajudou na escolha dessa profissão?

Martha
 Eu escrevia poemas desde os 16 anos, antes de entrar na faculdade, e aos 23 anos resolvi mandar alguns desses poemas para uma avaliação da editora Brasiliense, de SP. Para minha sorte, o editor Caio Graco gostou do material e meses depois lancei meu primeiro livro pela coleção Cantadas Literárias. A partir daí publiquei outros livros de poemas, mas era uma espécie de hobby, não me via como escritora. Só em 1994 é que comecei a escrever crônicas para jornal e meu trabalho ganhou uma tremenda visibilidade, tanto que deixei a publicidade para me dedicar à literatura. Foi um processo lento e circunstancial, nada aconteceu por decreto, de um dia para o outro.




Etc —
 Martha, entre muitos livros e muitas crônicas, fica difícil ver por qual desses estilos você ficou mais famosa. O certo é que em inúmeras repartições públicas aqui do rio,armários de jovens, papéis de parede de computador e até em fichários, em todo lugar corre o risco de se encontrar uma crônica sua. Qual é o segredo pra exercer essa mágica do jornalismo:dizer tanto em tão poucas linhas?  
 

Martha
 Não há um segredo, uma fórmula mágica, nada disso. Escrevo do único jeito que sei, não saberia escrever de forma mais hermética. Acho que a publicidade me deu uma cancha, não posso negar. Meu texto é considerado comunicativo e sedutor, duas características obrigatórias na redação publicitária. O resto vem de dentro, não invento um personagem. Escrevo sobre o que sinto, penso, estou inteira ali no texto. Há uma honestidade que talvez seja perceptível e que encante os leitores.




Etc —
 Em sua escrita pode-se observar que você traduz com exatidão a linguagem da alma, para a nossa linguagem. Como é ser essa tradutora de sentimentos, dar voz e verbalizar o que muitos que se identificam com o que você escreve não conseguiriam fazer sozinhos?



 Martha
 Não considero que eu tenha essa missão de “tradutora da alma”, seria muita pretensão. Os sentimentos são universais e repetitivos, não há nada de novo no front, eu apenas coloco-os “no papel” sem me preocupar em ser moderna, estilosa, hype, nada disso. Não há um “truque”. Talvez o que cative seja justamente eu não me levar tão a sério. Os leitores me levam mais a sério do que eu mesma. Estou sempre prestes a me contradizer, assim é a vida, não há verdades absolutas.    




Etc —
 Todas essas reflexões, você já as vivenciou na pele ou são inspiradas em outras pessoas ou personagens criados por você? 


Martha
 Depende. Muitas foram vivenciadas por mim, outras foram vivenciadas por amigas, algumas coisas eu ouço por aí e desenvolvo. A vida tem matéria-prima de sobra. O importante é saber se colocar no lugar do outro pra tentar extrair dali uma emoção verdadeira, e não fajuta. Já escrevi sobre perda de filho sem nunca ter perdido filho algum, e no entanto muitas mães juram que eu já passei por essa tragédia, pois se sentiram refletidas pelo texto.



Etc —
 Se você responder que já vivenciou todas ou grande parte dessas experiências na pergunta acima, parece que você sofreu bastante, é correto essa frase? Pra se escrever com essa exatidão tem que sofrer mesmo?


Martha
 Eu já sofri por amor, quem não? Porém, sofrimentos mais radicais, não sofri, não. Tive uma vida bastante privilegiada até aqui. Mas claro que há momentos de melancolia, angústias, dúvidas, e tudo isso acaba servindo para a criação de histórias ou de crônicas.


Etc —
 Solidão, "distanciamento" um do outro e superficialidade de sentimentos são temas presentes no seu trabalho. Alguma razão especial? 


Martha — 
Com a solidão tenho a melhor das relações, mas porque é uma solidão escolhida, não imposta pelo destino. Tenho mãe, pai, irmão, filhas, sobrinhos, namorado e uma penca de amigos, não poderia jamais me queixar de solidão. Justamente por ter muitos afetos, gosto de ficar sozinha de vez em quando, conectada comigo mesma. E como sou um tango argentino, muito intensa nas minhas emoções, acabo me surpreendendo com a superficialidade dos encontros atuais, tudo muito descartável. Tenho bastante dificuldade de me desapegar de pessoas, enquanto que tenho a maior facilidade de me desapegar de coisas materiais. Parece que estou na contramão das tendências. Escrever sobre isso me interessa.



Etc — Quem são seus escritores preferidos? 


Martha
 Philip Roth, Paul Auster, Ian McEwan, Caio Fernando Abreu, Saramago, Verissimo, Mario Benedetti e milhares de etceteras. 



Etc —
 Já tem alguma previsão de próximo romance? 


Martha
 Acabei de lançar uma coletânea de crônicas chamada “Feliz por Nada”. De três em três anos eu documento minhas crônicas em livro, a última coletânea havia sido “Doidas e Santas”. E no começo do ano que vem pretendo lançar um livro com relatos de viagens, tudo biográfico mesmo. Viagens variadas que fiz pelo Brasil e pelo mundo, nas mais diversas situações. Não será um livro de dicas e roteiros, e sim registros de roubadas, imprevistos, descobertas. Mais adiante a gente fala sobre esse livro, ele ainda não está pronto.


Etc —
 Sempre nas entrevistas do Etc.e.tal haverá espaço para o entrevistado dizer o que quiser, ao final da matéria, se isso não foi possível por meio das perguntas. O que você tem a dizer... 

Martha — 
Apenas agradeço o espaço, obrigada pela oportunidade.