outubro 2010

História sem fim

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Sobre você, vi. Vendo por ver.
Enquanto em meio aos tambores na selva os silvícolas gritavam entre murmúrios, num tom fúnebre como uma fumaça que cai sobre o decampado, uma espécie de mantra monótono:

- Salve a selva de saliva que dissolve a solidão! Salve a selva de saliva que dissolve a solidão! As almas que de noite dão , não darão seus corpos no ar em vão!

Com sentimento, ela consentia com o tom das cores sobre os corpos e o som das muitas vozes que vinham de todos os lados sobre o chão.
Uma cabeça dura, duas cabeças chatas e alguém que tinha 21.000 cabeças pensantes dentro de uma, que ante outra cabeça acerta-se em convicções.
Tive visões.
Numa delas não trato a falta que te fiz; você diz que, como eu, marcou com fogo vermelho quente, marcou um signo no braço.

-E o som que vinha da mata fechada era eu.
Assim como floresta convida e traga adentro seu desbravador,
assim trago eu o meu grande amor.

Devora-me em mata fechada
e decifra-me sob a luz do luar.
Portanto não me coube em si tanto amor,
como não me cabe à mim ser quem sou,
fui condenado a jamais amar.
 

Não sei, nem sou ao certo, quem dizia isso. Se era ela, ou o eu dentro de mim que me projetava em minha mente, slides de momentos em que dois se juntavam num só.
Numa última visão, recebi:

”Na morte, no chão e na lápide, escrito:
a beleza reside senão na higiene, o amor preside nada mais do que a dor.”

E a única certeza que tive depois disso é , que nenhum término, jamais, tem sempre um fim.

A Roberta Close da política

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O PT (Partido dos Trabalhadores) chegou ao governo, em 2002, com status de Robbin Hood , personificado em seu metade revolucionário, metade companheiro: Lula- que, no fundo, no fundo, não passa de um sindicalista que acredita que todo problema pode ser resolvido com acordos.

A esperança depositada no PT ,se explica pelos sucessivos fracassos eleitorais em busca da presidência. Na primeira eleição direta pós-ditadura , Lula amargou a derrota na reta final para um jovem de um partido pequeno , o nada saudoso Collor — dito cujo que está de volta na ativa vida política — que usou durante um debate da rede Globo artifícios horríveis, como um aborto que o sindicalista teria sugerido à sua ex- mulher. Motivos banais pela forma que foram abordados uma vez que o Estado é democraticamente Laico.

Depois disso, por duas vezes, Lula caiu ante Fernando Henrique Cardoso. FHC, intelectual e tido como de direita é, no mínimo, polêmico, e até hoje, quase dez anos após seu último dia em Brasília como presidente, é visto como referência máxima para os tucanos, umas macacadas e, dizem as más línguas, para os “burros” também.

Quando chega ao poder em 2002, Lula tinha acumulado experiência e feito de um provérbio chinês o seu lema: “o burro erra e não aprende, o inteligente erra e aprende, já o sábio aprende com o erro dos outros”. Lula não comprometeu, nadou contra o fluxo de decadência internacional e recebeu no colo heranças do governo de FHC. Teria sido perfeito se, em uma única área, os petistas não tivessem mostrado a sua verdadeira faceta: a de aloprados.

Nunca antes na história desse país houve tantos escândalos envolvendo corrupção. O governo, obviamente vê o copo como meio cheio, e não meio vazio. Afirmam eles que isso aconteceu por razão de o PT ter corrido atrás dos corruptos. Os maiores eram de dentro do próprio PT, diga-se de passagem.

Em 2002, Lula, ainda não o presidente, num de seus discursos contra Serra, esbravejava que o partido dele comprara votos por comida. Algo que ele era declaradamente contra.

Luiz Inácio “Lula” da Silva é o patrono da bolsa família, e a maioria esmagadora do nordeste e norte é PT, ou melhor, Lula (uma vez que esse governo não conta com plataformas ou programas, e sim, com a personificação de um líder único).
Tudo contra Lula lutou: a corrupção de quem estava no poder, o neoliberalismo , o crescimento dos grandes empresários, a compra de votos por comida cresceram e se fizeram características do governo petista.

Chegando ao fim de mais um mandato,o PT, que gerou expectativas enormes em todos os seus militantes que durante anos lutaram para ser representados por companheiros honestos e éticos, é a Roberta Closet da política. Não é o que parece.



P.S.: para minha tia Regina; petista, contudo feliz.

Um sábado com Nietzche

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A dificuldade que se tem para abrir o potinho de iogurte é comovente. Some a dificuldade do porvir quando os olhos encontram que há outro potinho: o de sucrilhos. Pronto, está formada a crise existencial. Tiro meu “Cem anos de Solidão” da estante e vejo que tinha uma aranha morando junto com o Gabriel Garcia Marques. Não quero mais. Parto pro “Humano, demasiado humano'”, e hoje é sábado. O sagrado shabat.Vamos passar a noite com Nietsche.
Porque eu não ligo para ela?Qual o verdadeiro sentido da vida? Pra quê, porquê, quando, onde, como e quem? O lead de jornalismo não se aplica ao real. Pelo menos não se tem respostas dessa investigação até agora. Em suma, a vida se aconchega entre dois pólos: graça e sofrimento.
A graça. Que graça é viver, se dar conta que está acordado, vivo e livre pra sonhar. Sem um mérito aparente se nasce, cresce, constrói. Se é criado ou fruto do acaso o fato é que tudo é fase; e há fases que são lindas! Planeja, pesca ilusões, vê o sorriso dela, o abraço da avó no neto, o cachorro que abana o rabinho, o sol que nasce trazendo um lindo dia em plena segunda-feira, alheio ao sofrimento do servidor público e sem respeitar o luto dos trabalhadores. É como aceitar o passeio na maior montanha russa da cidade. Todos vêem que hora você está lá e cima, hora lá embaixo. Parafusos, looppings e a vontade que deu no início de querer descer e ir direto pro banheiro , começa a se misturar com o prazer de se deixar levar pelo trilho. Contudo se segurando firmemente, lógico. Ninguém confia uma vida nas mão da vida, obviamente.
Aceitar o ticket do carrinho 23 do lado esquerdo foi, afinal, uma boa decisão.
Aceitar o contrato do sonho, do planejamento, é algo corajoso. Assinar esse contrato é saber que vai partilhar do sofrimento e alugar, mesmo que temporariamente, os olhos para incontáveis lágrimas. É não somente saber, mas ter a certeza de que vai chorar e que vai pedir até pra sair da brincadeira como quem faz sinal com a mão enquanto pede licença. O sofrimento. Não adianta pedir pra bater porque o mata-leão da vida nunca afrouxa. Ela só reconhece uma ação: um outro mata-leão ou uma chave-de-braço qualquer, nunca, jamais, a rendição. A vida é dos “jiujiteiros”. Muitos sofrem injustiças, fome, miséria, falta de oportunidade, falta de conhecimento só que, daqui do condomínio nem se nota o verdadeiro mundo, a verdadeira vida. então deixemos isso para lá.Esse é o sofrer, não só a fome ou a falta de oportunidade dos outros, mas o ‘deixar pra lá’ de alguns também. Enfim, agora eu não quero nada a não ser acreditar que entre a graça e a vida, um rosto ou um retrato, a ilusão e a cidade, realmente há um futuro que não precisa fazer valer o presente. E claro, com o sucrilhos misturado ao iogurte com açúcar, mãos a obra.