"Não existe receita em arte"

"Não existe receita em arte"

Cuenca lançou seu último livro que faz parte da coleção "Amores Expressos"


Nascido em 1978 e formado em Economia pela UFRJ, o escritor João Paulo Cuenca, autor dos romances “Corpo presente “(Planeta, 2003) e “O dia Mastroianni” (Agir, 2007), e mais recentemente”O único final feliz para uma história de amor é um acidente”( Companhia da Letras) protagoniza a semana do Etc.e.Tal.. Seu último livro faz parte da coleção “Amores Expressos”, projeto que reuniu 17 escritores brasileiros de três gerações e os mandou por um mês para os mais diversos destinos para se dedicarem a colocar as histórias de ficção que foram criadas durante o período de imersão no papel. JP, como costuma assinar, foi para Tóquio e narra em “ O único final feliz(...)” uma história de amor perturbadora com narradores surpreendentes, como uma boneca erótica. O menino que aos 4 anos colava imagens em um caderno que chamava de livro, foi o autor do seriado “ Afinal, o que querem as mulheres?”, sucesso da Globo no último ano.

Segue a conversa com o escritor que tem uma visão peculiar de sua 'profissão: " Não considero literatura uma carreira. A paixão pelos livros começou em casa. Por sorte, sempre tive uma boa estante de livros para escalar."



Cuenca é atualmente colunista no programa Estúdio i, da GloboNews





Etc.e.Tal. – João Paulo Cuenca
Por Bruno Almeida 


Etc —O que diria aos que desejam se aventurar como escritores? Há uma receita a seguir?

Cuenca —Eu diria que desistissem enquanto é tempo. E não existe receita em arte.


Etc —Aos 24 anos, você já tinha livro lançado com sucesso de público e crítica e escrevia no JB. Em 2007, foi selecionado pelo “Festival de Hay” e pela organização do “Festival Bogotá Capital Mundial do Livro” como um dos 39 autores mais importantes da América Latina com menos de 39 anos. Como foi lidar com isso?
Cuenca —Não acho que um escritor deva dar muita importância a esse tipo de repercussão. O sucesso e o afago da crítica são altamente corruptores e acreditar nisso só vai te fazer um sujeito preguiçoso. E a lista é apenas uma lista. Foram 4 brasileiros escolhidos e poderiam ter sido outros 4. Especificamente sobre os 39 de Bogotá, lidar com isso foi muito agradável. Pude estabelecer contatos com outros 38 escritores latino-americanos que jamais conheceria de outra forma.

Etc —Para escrever o último livro, você foi a Tóquio, cidade onde se passa o romance. Foi mais fácil escrevê-lo do que se não tivesse ido? Qual é a diferença de escrever um livro quando se conhece o ambiente em que a história se passa?

Cuenca —Teria sido impossível escrever esse livro sem a viagem. Seria outro. Muito mais importante que a pesquisa factual foi o fato de viver o processo criativo sob a influência de novas cores, sons e pessoas. Dito isso, não acredito que para escrever um livro sobre qualquer lugar é importante visitá-lo. Mas visitá-lo cria uma experiência nova, que pode ser traduzida em texto.


Etc —
Algumas pesquisas dizem que capas e títulos macabros, ou coisas do gênero, vendem menos em relação aos demais. Leva isso em consideração na hora de escrever?

Cuenca —Jamais.


Etc —
O voyeurismo é uma marca na obra do mestre inglês Alfred Hitchcock. Para escrever “O único final feliz”, se inspirou nele de alguma forma? Hitchcock tem alguma influência na sua literatura?

Cuenca —Não. O voyeurismo é algo que os seres humanos, japoneses ou não, praticam desde que existe o desejo. 



Etc —
O Dia Mastroianni
é o seu segundo romance. Trata-se do relato do cotidiano de dois jovens hedonistas, sem trabalho, que usufruem de uma desafogada situação financeira. Um deles ambiciona tornar-se um escritor de sucesso. Tirou algo seu para colocar neste personagem?

Cuenca —Quem dera. Nunca tive desafogada situação financeira e não me considero um escritor de sucesso. O que tirei de mim para compor esse personagem foi apenas a sua estupidez adolescente. De alguma forma, trata-se de um acerto de contas com o passado.



Etc —Solidão, distanciamento um do outro e superficialidade de sentimentos são temas presentes no seu trabalho. Alguma razão especial?
Cuenca —São temas da contemporaneidade. O mundo anda povoado por multidões de solitários.


Etc —
Quem são seus escritores preferidos?

Cuenca —Varia de acordo com o livro que estou escrevendo. Não tenho uma lista.



Etc —
Como tem sido a repercussão de seus livros no exterior?

Cuenca —Boa. É interessante notar como o contexto de uma sociedade influi na leitura de uma obra.



Etc —Qual dos seus personagens mais se parece com você? Se é que algum se parece.

Cuenca —A boneca Yoshiko — Yoshiko é uma boneca erótica descrita no livro “O Único Final Feliz...”



Etc —
Os escritores parecem escrever pelo compromisso de não ter compromisso com ninguém, a não ser com si próprios. Acha possível ser livre tendo de cumprir prazos e compromissos? A sensação de liberdade que sente hoje quando escreve é a mesma de quando escreveu o primeiro livro?

Cuenca —Não existe liberdade confortável. Quando escrevi meu primeiro livro, sequer sabia se seria publicado. Hoje em dia, preciso criar esse espaço (de desistência possível, de solidão etc.) toda vez em que sento para escrever.

Etc —Já tem alguma previsão de próximo romance?

Cuenca —Comecei a escrever, mas ainda não quero falar do que se trata.


Etc — Sempre nas entrevistas do Etc.e.tal haverá espaço para o entrevistado dizer o que quiser, ao final da matéria, se isso não foi possível por meio das perguntas. O que você tem a dizer...

 Cuenca —acredito que um escritor escreve a literatura que pode. Ele é feito mais dos seus defeitos e limitações do que o contrário. Literatura é ruído.



*O Etc.e.Tal revisita a entrevista com Cuenca, concedida no final do ano passado.



2 comentários:

  1. Cara, que legal essa entrevista! Ouvi bastante falar desse livro, agora tô com mais vontade de ler!

    Um bjão!

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  2. Leia, sim! Vale pena, o Cuenca é bem diferenciado!

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