A luta pela classe C

A luta pela classe C

Após a repercussão do texto abaixo e do ótimo e proveitoso feedback em relação ao tema, tive a honra e o prazer de receber opiniões e conselhos sobre conteúdo e também forma do último artigo. Uma dessas pessoas, um referencial profissional para mim, Stephen Kanitz, sugeriu-me que repartisse o artigo em quatro, devido ao extenso tema. Desafio aceito, comecemos hoje pelo final, a minha reflexão sobre a Teologia da Libertação.

Tal teologia tem no Brasil seus ícones mais conhecidos: Leonardo Boff e Frei Betto. Sobre tal corrente pode-se acreditar que ela nasce no começo dos anos 60, ainda como "cristianismo da libertação", quando a JUC (Juventude Universitária Católica) se alimentava da cultura católica francesa progressista que propunha, pelo cristianismo, uma radical transformação social e era encabeçada por Emannuel Mounier e padre Lebret.

Esse embrião de movimento fomenta e se estende aos demais países da América Latina tomando para si engajamentos culturais, políticos e sociais, sempre atrelados ao cristianismo. Nos anos 70 nasce então a "Teologia da libertação".

Leonardo Boff e Frei Betto, tal qual eram, ainda são extremamente atuantes em sua ideologia nos dias de hoje(Boff por suas convicções chega a ser excomungado pelo Papa na década de 80 e Frei Betto, além de assessor especial de Lula quando presidente no país, fez assessoria de outros organismos socialistas Estado-Igreja também). Resumindo a teoria e a função da Teoria da Libertação seria "optar pela causa dos pobres".

A luta pela massa, pela maioria que é tida como mais manipulável por alguns estudioso não é nova, e já se entendeu que para se estabelecer novos paradigmas, não há base maior do que a classe C, os pobres. Como diria Clinton, segundo o jornalista Paulo Henrique Amorim, quando soube que Lula havia sido, enfim, eleito presidente: "É sempre assim, se elege pelos pobres mas se governa pelos ricos".

Acontece que, exatamente na década de 80, o crescimento religioso que o país começa a enfrentar é outro. A máxima "comunicação é o que se entende e não o que se fala" se fez verdadeira para a nova Teologia.

Ela que deveria ser do e para os pobres é substituída ligeiramente pelo protestantismo nas ruas das cidades nacionais.

Com uma linguagem mais simples e mais direta — uma vez que a formação de pastores em tal época e aqui era diferente da formação de padres, logo a semelhança entre locutor e ouvinte sendo maior, maior também a receptividade — as igrejas evangélicas das mais variadas denominações, que haviam chegado no país somente no século anterior, tomam a frente, assumem seu posto e seu legado no lugar de Boff e companhia.

Em 1960, a classe se resumia a somente 4% da população. A população cresce e a porcentagem de fiés também; hoje cerca de 20% dos brasileiros se reúnem semanalmente em cultos. O país é uma potência e visto como o celeiro das atividades não só nas Américas como no mundo. Não raramente palestrantes e pregadores de expressão nacionais são convidados para ir para os quatro cantos do mundo multiplicar o know how e o que tem acontecido por aqui.

Tendo a distância entre líder e público diluída pelas semelhanças de origem e história pessoais, outro fato que coopera para o crescimento dessas igrejas sobre o público alvo que seria na nova Teologia católica é também o fato de que novas denominações continuam a surgir ao longo do país buscando e diminuindo a margem de pessoas que não se enquadrariam por conta de características. Hoje, existem formas e expressões de evangelho para todos: surfistas, empresários, desempregados e empregadas.

O fato é que a igreja evangélica sem abrir mão dos princípios se adéqua as novas realidades numa velocidade razoável, enquanto a igreja católica continua afastando de si pessoas de vanguarda como Boff e Betto, que, estando do lado do Papa, seriam responsáveis por uma situação aqui, se não muito, pelo menos um pouco diferente da atual.

Hoje, não só no Brasil, a igreja católica enfrenta o que chamam de crise, e se continuar do jeito que está, as igrejas ligadas ao Vaticano vão ficar mais vazias do que o Egito na época do êxodo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário