O tal guru e o lunático

O tal guru e o lunático

Uma manhã, numa conferência, um guru desses bem famosos da moda, que ganham milhões para expor receitas para a felicidade fez sua apresentação e foi embora repentinamente ao término de suas últimas e emocionantes frases. Aliás, o maior segredo do guru é falar e se ausentar logo, não ficar ali dando sopa até que a profecia não se cumpra e o problema se revele. Guru é aquele cara que vem bem de longe, e volta pra bem longe, em síntese é isso. Tal facilidade talvez explique a existência desse ofício, que nos dias de agora, carinhosamente a legislação classifica como "charlatanismo" e outros quais.

Passada as palavras motivacionais do guru, no final da apresentação acalorada, no auditório para milhares de pessoas uma musiquinha da bem agitada, com bastante balanço, começou a tocar. Musiquinha alegre e todos se abraçaram, sorridentes, felizes não se dando conta de que, a medida que se abraçavam e iam se findando os tapinhas nas costas e o gosto daquelas palavras a aparente forte e velha angústia ia galgando o espaço que era seu por direito no coração de cada um dos presente. Ela confirmou presença no evento também mas, tímida como ela é, só conseguiu se enturmar e fazer valer seu ingresso depois que o guru, aquele de bem longe, das palavras bonitas e técnicas rebuscadas no discurso que deixariam qualquer político invejado, voltou para bem longe, muito rápido.

Então, notando de que todo o momento não passou de um flerte com a alegria e que nada mais era do que êxtase momentâneo, foram apenas uma hora daquelas bem mentirosas que te distraem para o que realmente importa na vida, um lunático, veja você a seriedade que esse texto toma a partir de agora, tomou de assalto a bancada que era outrora do guru e, já gritando, acenando com os braços disse sua mensagem antes que os trogloditas da segurança o dessem uma bordoada.

Mesmo de longe, na ponta dos pés, no meio da multidão que se decidia a dar atenção ao louco ou ao fato de que a angústia nunca havia ido, embora ouvi algo como

"Viva a tal maneira de desejar a eternidade daquele instante. Passaram o dia esperando o dia acabar, o final de semana chegar, as férias começarem, a fase acabar e não se deram conta de que, na verdade, torciam pra que a vida acabasse. Se você não ama o que faz, mude. Não patrocine sua infelicidade. isso deve ser terrível.

Algumas vezes penso que convivemos com tanta gente e não amamos quase ninguém. Algo deve estar errado não, é?

Sabe aquele momento que você desejaria eternidade? Pois é, isso é a felicidade."

"E eu? Eu não matei Joana D'arc" foi a última coisa lúcida que consegui pescar naquele intrigante discurso antes de ver o louco ser arremessado do palco na confusão, com direito a tabefe estalado na fronte e microfonia.

Eu não sei não mas, desde então, tenho uma simpatia maior por quem tem a coragem de falar da vida e a vive de fato.

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