Ah Lek Lek Lek

Ah Lek Lek Lek

Com "a nova sensação" do funk no rio de Janeiro, que já dominou da titia ao vovô, fazendo cada vez mais sucesso, vale a pergunta: Porque cada vez falamos menos, com abreviaturas e de forma diferente?

Apesar das novas tecnologias estimularem a comunicação, para Claudio Correia, doutor em comunicação, há uma diminuição na qualidade da escrita nesses novos meios

Leia a matéria que tenta explicar "ah lek lek", "Shimbalayê" e outros tais abaixo.


Ouça a peça "Ah Lek Lek" AQUI (se recusar, parabéns, faça esse favor)

“Nesta época, o ser humano habitava cavernas, muitas vezes tendo que disputar este tipo de habitação com animais selvagens. Vivia da caça de animais de pequeno, médio e grande porte, da pesca e da coleta de frutos e raízes. Usavam instrumentos e ferramentas feitos a partir de pedaços de ossos e pedras. Nesta fase, os seres humanos se comunicavam com uma linguagem pouco desenvolvida, baseada em pouca quantidade de sons, sem a elaboração de palavras.” Fonte: Wikipédia, sobre a Era Paleolítica compreendida entre 500.000 a 18.000 anos antes de Cristo.

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Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar
Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar
Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar
Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar”  -  
Shimabalaiê, maior sucesso da jovem cantora nacional Maria Gadú.

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“Que Tesão! Nossa!
Que Balão! Que Melão!
Que Capusão! E tudo Ão!...
Refrão: IMIAUAHAIRLKJHAKSJOQIAAIU (Choramingando)” –
"Sem noção", música de Latino que conta a aventura de um homem que seduz uma mulher choramingando.

Recentemente, um programa desses da madrugada entrevistava um renomado professor de lingüística. Em pauta, sua mais recente obra. Dado momento, o professor comentou que a evolução da linguagem se dá pela praticidade e objetividade que ela alcança, citando o exemplo da palavra você, que é uma palavra derivada do intitulamento “vossa mercê”, usada antigamente e que foi se transformando até chegar no atual você, passando pelas formas de sucessivas contrações de vossemecêvomecê e vancê.

Não há como não lembrar da internet e suas linguagens e técnicas usadas nas contrações de palavras e objetividade de comunicação. Para Claudio Correia, Professor Adjunto da Universidade Federal do Amazonas / UFAM, doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / PUC-SP e Mestre em Lingüística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro / UERJ, graças aos novos meios de comunicação, as pessoas passaram a usar mais a escrita como um instrumento funcional para se comunicarem.

— Nunca a humanidade escreveu tanto como agora graças ao advento das mídias digitais e da comunicação em rede! De certa forma o uso excessivo da escrita nesses ambientes virtuais nos faz pensar sobre um conceito no campo da linguística o qual dizia que se priorizava o uso da fala em detrimento da escrita devido a sua funcionalidade. Mas nos ambientes virtuais de interação o que encontramos é exatamente o contrário: a prioridade é o uso da escrita, e não o da fala e isso coopera para a criação desses neologismos e contrações. — disse o professor. 






Professor Claudio Correia no evento "Estudos em Semiótica", organizado por ele





O doutor em comunicação afirmou também que o grande número de dispositivos digitais como notebooks e celulares incentivam a população dos grandes centros mundiais ao desenvolvimento do hábito da escrita.

— Tirando o tablet, que é bem recente, atente para o fato de que outros dispositivos servem muito mais para a escrita do que para a leitura.

Para Claudio, outra característica que pode ser percebida além da forma, é o conteúdo  de como nos comunicamos. Não raramente novos jeitos de comunicação são vistos migrando da internet para a tevê, para músicas e para a linguagem oral das pessoas.

— Em todo esse contexto de novas formas de se comunicar, pode ser percebido uma diminuição na qualidade do que está sendo escrito pelas pessoas: tanto no plano dos conceitos, como no plano das regras e normas da própria língua.

Algumas transformações na linguagem nos remetem a pergunta “que fim levará isso tudo?” Com formas cada vez mais contraídas, a ainda vasta língua portuguesa praticada no dia-a-dia parece cada vez mais se sintetizar em poucas palavras que carregam signos ‘genéricos’ para inúmeras coisas. As canções no início do texto (“shimbalaiê”, palavra inventada pela autora sem significado algum e o “choramingo” do Latino) fazem acreditar que apesar de nos comunicarmos mais em quantidade, a qualidade não se faz presente. O Mestre em Linguística Claudio explica que a questão não é bem essa:

— A questão de repetição e ausência de um conteúdo ideológico nas músicas está relacionado com o caráter icônicoª do uso da linguagem na música. Essas músicas trabalham com a iconicidadeª e com o nível de semelhança entre sons e sílabas das palavras. O que está realmente em jogo nestas músicas é a sua sonoridade, e não seu conceito.

Após ouvir essas canções, ainda vale ficar a indagação se será uma surpresa se um dia voltarmos aos grunhidos emitidos pelos homens das cavernas para falarmos uns com os outros...

ªiconicidade :O substantivo (nome) feminino iconicidade significa, em linguística, «semelhança existente, em certos signos linguísticos, entre a forma e a coisa representada, o que ocorre em onomatopeias (p. ex.: atchim, tique-taque), e palavras onomatopaicas (p. ex.: sussurrar, zumbido)» e, em semiologia, «propriedade que tem o signo icônico de representar por semelhança o mundo real (quanto maior o grau de iconicidade de um signo, tanto menor o seu grau de abstração ou esquematização)».
[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

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