"Só se taca pedra em árvore que dá fruto"

"Só se taca pedra em árvore que dá fruto"

O Bispo Edir Macedo, presidente da Igreja Universal do Reino de Deus, a maior numericamente em membros da América Latina, criticou na última semana publicamente os 'levitas' ( nome pelo qual músicos que tocam nas igrejas protestantes do país são reconhecidos) alegando que não erraria em arriscar que 99% de todos esses são "endemoninhados". Para ilustrar sua indignação e denúncia, usou uma foto da cantora, contrata também da Som Livre, Ana Paula Valadão, líder de um dos maiores grupos da corrente, o Diante do Trono, que teve seu boom na década de 90 juntamente com sua igreja em Minas Gerais.

Silas Malafaia, como de costume, fazendo-se de uma espécie de atalaia da utilização dos bons e bíblicos costumes evangélicos, rebateu. Segundo o próprio, a motivação da declaração não passa de mercadológica. Veja a seguir.






O Apóstolo Renê Terra Nova (@ReneTerraNova), do MIR, Líder da Visão Celular no país, sem citar nomes, assim como Malafaia, se declarou chocado por meio de seu twitter, e, usando sua posição de profeta, disse acreditar que " Deus vai tratar essa situação de forma tão visível que gerará um temor em toda a nação. Os levitas são a Menina dos Olhos do Eterno" afirmou ele.

Ana Paula Valadão, a personagem da indignação do Bispo e dono da Rede Record, respondeu dizendo que não se intimidará com as acusações a continuará com sua conduta. Muitos outros cantores como o vocalista de uma das bandas mais importantes do cenário gospel, o Oficina g3, Mauro e André Valadão se mostraram publicamente contra a posição de Macedo.


Por trás de todas essas questões surgem inúmeras outras, que, para muitos, podem ser muito mais relevantes do que o adendo de Macedo. O fato é que, bíblica e historicamente, os levitas eram uma classe especial, foram separados, e até hoje se diferem em seus afazeres eclesiásticos, em sua postura e no tratamento religioso. Logo, uma acusação como essa, é, nada mais , nada menos, querer insinuar que a igreja nacional como um todo está arruinada como instituição.

Outro assunto relacionado à esse também é o fato da igreja evangélica, hoje, ser uma das maiores escolas de formação de músicos seja para o meio secular ou não. Em quase toda grande banda há algum músico que aprendeu suas primeiras notas em igrejas com acústica precária, e muitas vezes sem ter seu esforço reconhecido (umas das explicações do grande êxodo do músicos nesse nicho e da alta rotatividade dos mesmos nos altares/palcos dos templos).

Em tempo: o Brasil caminha hoje para uma estágio que alguns classificam como 'maturidade'. O que disse o apóstolo Terra Nova disse em um de seus tweets pode ser um exemplo: " Prefiro um Raul Gil dando oportunidade aos levitas do Brasil do que um chamado bispo criticando nossos nobres do altar". Nos Estados Unidos é comum a presença de músicas de caráter gospel  (tanto em mensagem quanto em estilo musical) estarem figurando entre as mais tocadas dos país. Não raramente famosos artistas norte americanos que fazem sucesso além fronteira ou são ou vieram de um escola e família protestante. O programa do Raul Gil, no SBT, que vem sendo um dos líderes de audiência em seu horário, diga-se de passagem, nesse sentido, é pioneiro por introduzir esse encontro entre o gênero gospel e a mídia secular. Para alguns, essa é uma das razões do cristianismo hoje, lá, estar em crise: a mistura do 'sagrado e do profano'.

É para se pensar também o fato de que a maioria dos segmentos e de todas as religiões e organizações estarem sempre amarradas ou organizadas hierarquicamente, seja pela utilização de ferramentas como discípulo/discipulador, pastores presidentes, etc e tal..  O que não acontece e nem nunca aconteceu no meio musical como um todo. À princípio, numa rápida análise pela história de todos os movimentos musicais, as reverências entre músicos nunca passaram da admiração , na maioria das vezes, técnica, e nunca pela humildade ou  reconhecimento entre líderes e liderados. A única liderança e cabeça pensante desse grupo, no geral, sempre foram os interesses comerciais até então sob a batuta das gravadoras. No meio evangélico, para além da necessidade comercial, há também a ligação e o elo que é respeitado entre igreja e seus líderes e os músicos.  Agora, com a crise fonográfica por conta das novas mídias digitais, como se organizará tecnicamente e moral/espiritualmente essa classe?


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