O
nome Martha parece ser prenúncio de coisa boa. Num pensamento rápido, vem logo na mente o nome da melhor jogadora do mundo com a camisa 10 da seleção brasileira de futebol feminino. Mas a Martha da
qual falaremos agora não é essa apesar de não deixar de ser uma
craque: a das letras.
- Martha Medeiros
A escritora Martha Medeiros tem, entre romances,
crônicas e poesias, 20 livros lançados na carreira |
Etc.e.Tal. – Martha Medeiros
Por Bruno Almeida
Etc — O que diria aos que desejam se aventurar como escritores? Há uma receita a seguir?
Martha — Eu diria para serem bem honestos ao se perguntarem: tenho o dom mesmo ou é só uma vontade? Se o dom existe pra valer, sugeriria que fizessem uma oficina de literatura, que já foi a porta deentrada de ótimos escritores, e que mantivessem um blog, algo que os fizesse praticar a escrita diariamente. E ler muito, muito. Ah, cruzar os dedos ajuda também.
Martha — Eu diria para serem bem honestos ao se perguntarem: tenho o dom mesmo ou é só uma vontade? Se o dom existe pra valer, sugeriria que fizessem uma oficina de literatura, que já foi a porta deentrada de ótimos escritores, e que mantivessem um blog, algo que os fizesse praticar a escrita diariamente. E ler muito, muito. Ah, cruzar os dedos ajuda também.
Etc — Corrija-me se estiver errado, mas, ao que parece, você era publicitária e durante umas férias, escrevendo alguns poemas é que se decidiu ser escritora como profissão. Imagino que a escolha tenha sido tardia. Como foi se transformar na profissional Martha Medeiros de hoje? O acaso ajudou na escolha dessa profissão?
Martha — Eu escrevia poemas desde os 16 anos, antes de entrar na faculdade, e aos 23 anos resolvi mandar alguns desses poemas para uma avaliação da editora Brasiliense, de SP. Para minha sorte, o editor Caio Graco gostou do material e meses depois lancei meu primeiro livro pela coleção Cantadas Literárias. A partir daí publiquei outros livros de poemas, mas era uma espécie de hobby, não me via como escritora. Só em 1994 é que comecei a escrever crônicas para jornal e meu trabalho ganhou uma tremenda visibilidade, tanto que deixei a publicidade para me dedicar à literatura. Foi um processo lento e circunstancial, nada aconteceu por decreto, de um dia para o outro.
Etc — Martha, entre muitos livros e muitas crônicas, fica difícil ver por qual desses estilos você ficou mais famosa. O certo é que em inúmeras repartições públicas aqui do rio,armários de jovens, papéis de parede de computador e até em fichários, em todo lugar corre o risco de se encontrar uma crônica sua. Qual é o segredo pra exercer essa mágica do jornalismo:dizer tanto em tão poucas linhas?
Martha — Não há um segredo, uma fórmula mágica, nada disso. Escrevo do único jeito que sei, não saberia escrever de forma mais hermética. Acho que a publicidade me deu uma cancha, não posso negar. Meu texto é considerado comunicativo e sedutor, duas características obrigatórias na redação publicitária. O resto vem de dentro, não invento um personagem. Escrevo sobre o que sinto, penso, estou inteira ali no texto. Há uma honestidade que talvez seja perceptível e que encante os leitores.
Etc — Em sua escrita pode-se observar que você traduz com exatidão a linguagem da alma, para a nossa linguagem. Como é ser essa tradutora de sentimentos, dar voz e verbalizar o que muitos que se identificam com o que você escreve não conseguiriam fazer sozinhos?
Martha — Não considero que eu tenha essa missão de “tradutora da alma”, seria muita pretensão. Os sentimentos são universais e repetitivos, não há nada de novo no front, eu apenas coloco-os “no papel” sem me preocupar em ser moderna, estilosa, hype, nada disso. Não há um “truque”. Talvez o que cative seja justamente eu não me levar tão a sério. Os leitores me levam mais a sério do que eu mesma. Estou sempre prestes a me contradizer, assim é a vida, não há verdades absolutas.
Etc — Todas essas reflexões, você já as vivenciou na pele ou são inspiradas em outras pessoas ou personagens criados por você?
Martha — Depende. Muitas foram vivenciadas por mim, outras foram vivenciadas por amigas, algumas coisas eu ouço por aí e desenvolvo. A vida tem matéria-prima de sobra. O importante é saber se colocar no lugar do outro pra tentar extrair dali uma emoção verdadeira, e não fajuta. Já escrevi sobre perda de filho sem nunca ter perdido filho algum, e no entanto muitas mães juram que eu já passei por essa tragédia, pois se sentiram refletidas pelo texto.
Etc — Se você responder que já vivenciou todas ou grande parte dessas experiências na pergunta acima, parece que você sofreu bastante, é correto essa frase? Pra se escrever com essa exatidão tem que sofrer mesmo?
Martha — Eu já sofri por amor, quem não? Porém, sofrimentos mais radicais, não sofri, não. Tive uma vida bastante privilegiada até aqui. Mas claro que há momentos de melancolia, angústias, dúvidas, e tudo isso acaba servindo para a criação de histórias ou de crônicas.
Etc — Solidão, "distanciamento" um do outro e superficialidade de sentimentos são temas presentes no seu trabalho. Alguma razão especial?
Martha — Com a solidão tenho a melhor das relações, mas porque é uma solidão escolhida, não imposta pelo destino. Tenho mãe, pai, irmão, filhas, sobrinhos, namorado e uma penca de amigos, não poderia jamais me queixar de solidão. Justamente por ter muitos afetos, gosto de ficar sozinha de vez em quando, conectada comigo mesma. E como sou um tango argentino, muito intensa nas minhas emoções, acabo me surpreendendo com a superficialidade dos encontros atuais, tudo muito descartável. Tenho bastante dificuldade de me desapegar de pessoas, enquanto que tenho a maior facilidade de me desapegar de coisas materiais. Parece que estou na contramão das tendências. Escrever sobre isso me interessa.
Etc — Quem são seus escritores preferidos?
Martha — Philip Roth, Paul Auster, Ian McEwan, Caio Fernando Abreu, Saramago, Verissimo, Mario Benedetti e milhares de etceteras.
Etc — Já tem alguma previsão de próximo romance?
Martha — Acabei de lançar uma coletânea de crônicas chamada “Feliz por Nada”. De três em três anos eu documento minhas crônicas em livro, a última coletânea havia sido “Doidas e Santas”. E no começo do ano que vem pretendo lançar um livro com relatos de viagens, tudo biográfico mesmo. Viagens variadas que fiz pelo Brasil e pelo mundo, nas mais diversas situações. Não será um livro de dicas e roteiros, e sim registros de roubadas, imprevistos, descobertas. Mais adiante a gente fala sobre esse livro, ele ainda não está pronto.
Etc — Sempre nas entrevistas do Etc.e.tal haverá espaço para o entrevistado dizer o que quiser, ao final da matéria, se isso não foi possível por meio das perguntas. O que você tem a dizer...
Martha — Apenas agradeço o espaço, obrigada pela oportunidade.
Oi Bruno
ResponderExcluirAchei a entrevista muito bem feita, texto bem escrito e muito interessante a entrevista...
Parabéns por conseguir realizar essa entrevista, ela é show... Parabéns, continue assim guri!
Sucesso aí na carreira =)
Beijos bru