G.R.I.T.E.I.

G.R.I.T.E.I.

“ (…)é falsa a análise que se faz da juventude atual, de que esteja alienada, ou conformada.Os primeiros a aderir o movimento foram os jovens ávidos pela transformação colocando a cara a tapa. O sangue ferve muito mais na juventude do que na veia dos cansados. A lamúria, a “choramingação” dos adormecidos é muito mais corrosiva. (…)”

O cantor e compositor Sérgio Ricardo lançou na internet no início do mês de julho um manifesto que inaugura o movimento G.R.I.T.A. – para acordar o artista brasileiro ( Grupo de Resistência aos Impedimentos no Terreno das Artes). No texto, que pode ser lido aqui, o compositor alerta sobre a falta de união da classe artística do nosso país e propõe um movimento que lutará pelos direitos dos profissionais, principalmente os relacionados aos direitos autorais.

Sérgio Ricardo alcançou o sucesso em sua carreira no início da década de 60, quando lançou os LP’s “Não gosto mais de mim” e “A bossa romântica de Sérgio Ricardo”. O cantor participou também do Festival de Música Popular Brasileira, transmitido pela TV Record, aonde quebrou seu violão e o atirou na platéia por ter sido vaiado enquanto cantava a música ‘Beto bom de bola”. Ao que parece, a veia protestante de Sérgio parece não ter se perdido ao longo desses anos.

Na entrevista que segue abaixo, Sérgio fala um pouco sobre como está sendo o início do movimento, da desistência de Chico Buarque e sobre a adesão dos jovens ao G.R.I.T.A..




Sérgio "Planos tenho inúmeros, engavetados, sem chance para o cenário atual em que a cultura se encontra." 



Etc.e.Tal. – Sérgio Ricardo
Por Bruno Almeida


Etc — Sobre o movimento G.R.I.T.A., é correto afirmar que ele intenta unir a classe artística musical na luta pelos direitos dos profissionais dessa área, principalmente os relacionados aos direitos autorais?

Sérgio Ricardo — Não só na área musical como em todas da arte brasileira. Mas como a música está na ordem do dia, resolvemos concentrar nela.
Etc —Apesar do movimento ainda estar muito no início, e de que todas as ações serão criadas pelo grupo — segundo o manifesto — já há algum indício do que será, ou do que poderia ser a primeira ação do GRITA?

Sérgio Ricardo — Ainda se está estudando qual a forma mais prática e eficiente que adotaremos para efetivar nossa ação. Tudo indica que a solução partirá das conclusões aprovada por todos. Por estarmos no começo o principal neste exato momento é fortalecer nossa base com a soma de adesões, para partirmos para a primeira ação. Como são tantas, tentaremos privilegiar as mais imediatas primeiro.

Etc —
Como e quando surgiu a ideia? Acredito que as evoluções tecnológicas tenham sido uma ferramenta para a  motivação desse movimento que tenta solucionar problemas. Na década de 70, 80, aqui no Brasil, um movimento como esse era imaginável?

Sérgio Ricardo — Naquele tempo teria sido impossível. A Internet realmente inaugurou um novo paradigma. O Brasil inteiro está recebendo nossas informações e de toda parte surgem adesões. A assembléia se estabelece nos comentários livres de cada um e  será fácil deduzir a vontade da maioria sem precisar de votação. É só manifestar sua opinião que já vale como voto. Fácil de serem comprovadas as decisões de todos. O GRITA nasceu de uma inspiração minha, muito preocupado em observar as dificuldades que a juventude atual, meu filho incluído, a procura de um rompimento das barreiras estabelecidas pelos donos da comunicação, dos direitos sendo roubados, e na inércia de uma reação em massa. Vi que de frente do meu computador, poderia provocar uma reação nacional em torno de nosso problema, sem precisar sair de casa. Haverá um momento em que teremos de pegar um avião e ir até Brasília resolver o assunto com o governo. Mas aí seria outro assunto.

Etc —
O que inspirou o GRITA? Algo como ele já foi feito no mundo, não somente no campo musical?

Sérgio Ricardo — Sim. A observação de várias tentativas bem sucedidas, usando uma maquininha mágica de comunicação. Resolvi fazer uma tentativa e está dando certo, mais cedo do que esperava.

Etc —
Recentemente Chico Buarque, o primeiro a aderir o movimento, pediu para sair da lista para não criar atritos com sua irmã, a ministra da Cultura Ana de Hollanda. O que o sr. achou dessa decisão? Outras desistências já aconteceram?

Sérgio Ricardo — Felizmente não houve mais nenhuma desistência. A saída do Chico já era esperada pelo vínculo que o liga ao Ministério da Cultura. Num ou noutro momento poderemos ou não entrar em choque com o Ministério. Pelo sim, pelo não, retirou seu nome, o que não o desmerece, tão pouco nos preocupa. Ha uma tendência, neste começo do movimento, dos grandes nomes não se enredarem, com a exceção de poucos guerreiros, por arriscarem sua receita de direitos mensal e colocarem-se, num determinado momento contra os vínculos que os ligam ao sistema deteriorado. Os argumentos de todos é meio parecido, alegando não entenderem nada sobre este assunto, ou cançasso por fracassadas tentativas anteriores.

Etc —
Nos nomes relacionados, percebe-se mais artistas experientes do que os da nova geração. Por que o sr. acha que isso acontece?

Sérgio Ricardo — Não é verdade. A esmagadora maioria é dos que estão sofrendo na pele as consequências dos desmandos, os que mais se rebelam e demonstram que sua vontade de mudança é definitiva. é falsa a análise que se faz da juventude atual, de que esteja alienada, ou conformada. Se não há luz no fim do túnel, como seguir em busca de algo? Com a GRITA os primeiros a aderir foram os jovens talentosos que andam espalhados por esse Brasil a fora, ávidos pela transformação e colocando a cara a tapa, como se diz na gíria. O sangue ferve muito mais na juventude do que na veia dos cansados. A lamúria, a choramingação dos adormecidos é muito mais corrosiva.

Etc —
Algum político já tentou alguma aproximação junto ao movimento ou ao senhor?

Sérgio Ricardo — Estão de olho no GRITA. Aceitaremos, evidentemente, o apoio dos políticos que venham nos defender, mas o GRITA não é vinculado a nenhum partido político. No manifesto fica claro este ponto. Nosso objetivo é a UNIÃO dos artistas. Qualquer vinculo partidário provocaria rachas inevitáveis. Nosso verdadeiro partido é o da Cultura.

Etc —
O sr. tem algum trabalho que lançou recentemente ou tem planos para algum?

Sérgio Ricardo — Meu último trabalho é o CD "Ponto de Partida" com um misto de canções inéditas e meus sucessos antigos, feito com músicos e cantores jovens, lançado pela Biscoito Fino. Planos tenho inúmeros, engavetados a espera de novos tempos, sem chance para o cenário atual em que a cultura se encontra. 

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