Um sábado com Nietzche

Um sábado com Nietzche

A dificuldade que se tem para abrir o potinho de iogurte é comovente. Some a dificuldade do porvir quando os olhos encontram que há outro potinho: o de sucrilhos. Pronto, está formada a crise existencial. Tiro meu “Cem anos de Solidão” da estante e vejo que tinha uma aranha morando junto com o Gabriel Garcia Marques. Não quero mais. Parto pro “Humano, demasiado humano'”, e hoje é sábado. O sagrado shabat.Vamos passar a noite com Nietsche.
Porque eu não ligo para ela?Qual o verdadeiro sentido da vida? Pra quê, porquê, quando, onde, como e quem? O lead de jornalismo não se aplica ao real. Pelo menos não se tem respostas dessa investigação até agora. Em suma, a vida se aconchega entre dois pólos: graça e sofrimento.
A graça. Que graça é viver, se dar conta que está acordado, vivo e livre pra sonhar. Sem um mérito aparente se nasce, cresce, constrói. Se é criado ou fruto do acaso o fato é que tudo é fase; e há fases que são lindas! Planeja, pesca ilusões, vê o sorriso dela, o abraço da avó no neto, o cachorro que abana o rabinho, o sol que nasce trazendo um lindo dia em plena segunda-feira, alheio ao sofrimento do servidor público e sem respeitar o luto dos trabalhadores. É como aceitar o passeio na maior montanha russa da cidade. Todos vêem que hora você está lá e cima, hora lá embaixo. Parafusos, looppings e a vontade que deu no início de querer descer e ir direto pro banheiro , começa a se misturar com o prazer de se deixar levar pelo trilho. Contudo se segurando firmemente, lógico. Ninguém confia uma vida nas mão da vida, obviamente.
Aceitar o ticket do carrinho 23 do lado esquerdo foi, afinal, uma boa decisão.
Aceitar o contrato do sonho, do planejamento, é algo corajoso. Assinar esse contrato é saber que vai partilhar do sofrimento e alugar, mesmo que temporariamente, os olhos para incontáveis lágrimas. É não somente saber, mas ter a certeza de que vai chorar e que vai pedir até pra sair da brincadeira como quem faz sinal com a mão enquanto pede licença. O sofrimento. Não adianta pedir pra bater porque o mata-leão da vida nunca afrouxa. Ela só reconhece uma ação: um outro mata-leão ou uma chave-de-braço qualquer, nunca, jamais, a rendição. A vida é dos “jiujiteiros”. Muitos sofrem injustiças, fome, miséria, falta de oportunidade, falta de conhecimento só que, daqui do condomínio nem se nota o verdadeiro mundo, a verdadeira vida. então deixemos isso para lá.Esse é o sofrer, não só a fome ou a falta de oportunidade dos outros, mas o ‘deixar pra lá’ de alguns também. Enfim, agora eu não quero nada a não ser acreditar que entre a graça e a vida, um rosto ou um retrato, a ilusão e a cidade, realmente há um futuro que não precisa fazer valer o presente. E claro, com o sucrilhos misturado ao iogurte com açúcar, mãos a obra.

2 comentários:

  1. vc mesmo que escreveu isso? fala a verdade! rs seus textos sempre meio complexos pra mim, parecem os textos de filosofia q eu tenho q ler pra facul... mas isso é bom, faz a pessoa refletir, parar pra pensar enquanto está lendo. ;-)
    Sinto q terei um amigo super jornalista!

    ResponderExcluir
  2. "pescar ilusões"

    "Aceitar o contrato do sonho, do planejamento, é algo corajoso. Assinar esse contrato é saber que vai partilhar do sofrimento e alugar, mesmo que temporariamente, os olhos para incontáveis lágrimas"

    Adorei!

    ResponderExcluir