Je Suis Carioca!

Je Suis Carioca!



Já imaginou  a música de João Gilberto cantada em francês? Um beco das garrafas no interior de Paris? Um barquinho no Rio Senna? Pois então, o cantor, compositor, boêmio e apaixonado pelo Brasil, Nicola Son, lançou seu CD intitulado “Parioca” ( uma mistura das palavras Paris e Carioca) que nos dá uma breve ideia de como seria esse "fenômeno". 






Marcando sempre presença no nosso país( a internet faz parte do sucesso dele), Nicola Son, filho de franceses e parisiense, começou seu romance com a terra tupiniquim quando, ainda criança, ouviu a música “Lígia'” – de Tom Jobim – numa coletânea de Jazz que seus pais ouviam. Teve seu namoro com nossa cultura selado quando conheceu o som de Jorge Ben Jor “ O primeiro CD do Jorge “Samba esquema novo” foi uma revelação enorme para mim. Maior do que a bossa nova” . Depois mais velho, com cerca de 20 anos, veio para o país descobrir mais sobre a cultura de quem então figurava nos rádios de sua casa na França.

Desde então, Nicola coleciona viagens ao Brasil e já tem dois CD’s em sua carreira. Antes do “Parioca”, ele divulgava um outro CD somente em seus shows na França, mais como um cartão de visitas segundo ele próprio. Em novembro o artista que residente na França estará de volta ao Brasil para gravar seu mais novo trabalho que terá mais elementos da música nordestina e para se apresentar mais vezes ao público que ele ama e que o recebeu melhor do que os próprios franceses "A divulgação pela internet foi algo de importância ímpar para mim", diz ele com seu sotaque indefectível.

Conheça um pouco mais sobre Nicola Son, o músico responsável em nos fazer acreditar que, se por um acaso, a bossa nova tivesse sido criada na França, não estaria nada mal representada.




Etc.e.Tal. – Nicola Son
Por Bruno Almeida 



Etc — Quantos anos você tem e está no Brasil há quanto tempo?
Nicola — Na verdade, eu moro em Paris, então falo das minhas viagens no Brasil : desde 2003, fiz varias viagens que duraram entre seis meses e três semanas. Ao todo, acho que passei um pouco mais de 1 ano e meio. A partir de novembro ficarei novamente por seis meses.






Etc — E por que você veio para cá?
Nicola — O primeiro motivo era pra fugir de um problema sentimental e escolhi o Brasil porque fazia tempo que queria conhecer esse pais,  apesar de já conhecer um pouco da língua. Logo que cheguei me encantei muito com a musica, sobretudo o samba que não conhecia muito bem. Na Europa, a gente sabe muito mais da bossa nova do que o samba. Então a acho que fui pra descobrir o país, conhecer a cultura (idioma e musica) e ter uma experiência internacional.




Etc —  Quantos discos já lançou?
Nicola —  Esse Parioca é o primeiro. Já lancei um CD com quatro canções na França em 2005, mas que não foi distribuído nas lojas, somente nos shows. Funcionava mais como um cartão de visitas…



Etc — Muitos 'gringos' ao chegar no Brasil se encantam com o jeito do nosso povo, as formas de lidar com os problemas e a recepção brasileira. Ao que parece, no seu caso, o que mais te impressionou foi a música, correto? Qual foi a primeira informação musical brasileira que te 'chocou'?
Nicola — Ah... Me encantei também com “tudo que fala”. Mas é verdade que o que me interessava era a musica mesmo. Musicas que me 'chocaram' são muitas !!! Sempre falou da historia de "Ligia" que fazia parte de uma coletânea de jazz dos meus pais e que detonava com as outras musicas que tinha no CD. Esse foi meu primeiro choque. Porém não posso esquecer também do CD do Jorge Ben chamado "Samba esquema novo", que foi uma revelação enorme, certamente mais do que a bossa nova pra mim! Gosto também de Orlandivo, Di Melo, Marcos Valle, etc...Também nessa época, era ainda muito ligado com a Funk/Soul americana, e nessa época do começo dos anos 2000, me lembro de uma coletânea que saiu na França também que se chamava "Samba Soul 70" onde tinha tantas perolas de samba funk / samba soul. Ainda hoje escuto muito essas musicas.




Etc — Você já levou esse seu som 'abrasileirado' para a frança? Como foi a recepção?
Nicola —  O disco Parioca foi lançado primeiramente  na França, em maio 2010. A recepção foi boa mas muito mais devagar. As coisas aconteceram passo a passo na França. A turnê na França ,por exemplo, só vai começar em setembro 2011. O problema que eu tenho é que aqui tudo é muito categorizado. Demorou muito pra achar uma assessoria de imprensa por exemplo, e até um distribuidor porque ninguém sabia aonde botar o CD : música francesa ou world music?! O problema que tenho, ainda hoje, é que na verdade, o trabalho pode ser classificado como nenhum dos dois ou os dois no mesmo tempo !!! Ai complica as coisas para a indústria musical.




Etc — Sua maior referência na música brasileira?
Nicola —  “Ouhlala”.... Maior referência ??? Caramba tenho tantas! Pelas letras acho que seria o Chico Buarque, pelo groove, Jorge Ben e pela completude da carreira e a variedade das músicas o Caetano Veloso. Mas amo chorinho, musicas nordestinas, composições de varios sambistas também... Então é muito difícil responder uma pessoa só referência.



Etc — A relação cultural entre Brasil e França é verdadeira, porém, ainda há o preconceito por parte de alguns brasileiros de que os franceses, generalizando, se portam de uma forma 'esnobe', 'metida'. Em algum lugar, você já foi tratado diferentemente por causa disso?
Nicola —  Não. Essa fama é a fama dos franceses na França em relação com os turistas eu acho. Em termos de intercâmbio cultural, não acho que existam esses preconceitos. Sou francês mas não liga pra essas coisas. Tento fazer a minha música da forma mais original  que puder e quem não curte tudo bem…


Etc — Qual o maior sonho artístico para você?
Nicola —  Que a vida sempre me dê a possibilidade de realizar todos os meus sonhos: criar, cantar e poder viver disso até morrer. Tenho tantas idéias e projetos que quero realizar… Se quiser uma resposta concreta, seria  trabalhar com Chico Buarque, Edu Lobo, Paulinho da Viola, ou Charles Aznavour... Todos esses artistas que admiro e que me inspiraram.




Etc — Ouvindo você tocar surge a sincera dúvida de que se a bossa tivesse existido na França ela  estaria tão bem representada quanto aqui no Brasil. O que mais te identifica nesse estilo: a melodia e a harmonia ou a mensagem que carrega o cotidiano carioca?
Nicola —  Com certeza a harmonia e melodia. A mensagem faz parte mas quando canto em francês não boto essa mensagem porque em francês não faria sentido. Tenho que contar outras coisas pois temos outras referências culturais. Não significaria nada para um francês a tradução de "Um barquinho", por exemplo.



Etc — Sempre ao fim das entrevistas, dou espaço para o entrevistado falar o que quiser se isso não foi possível por meio das perguntas. O que você gostaria de dizer...
Nicola — Nada menos que volto em novembro pra fazer mais shows no Brasil e gravar o meu segundo disco que vai ter muito mais a ver com a música nordestina. Que amo o Brasil e o povo e que estou muito honrado de ter tantos bons retornos dos brasileiros sobre o meu trabalho... Mais do que os franceses!

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