Uma ótima pergunta

Uma ótima pergunta

Estava bem no leblon aquele dia. Vazio e aconchegante. Por vezes engatinhava, outras só sentava de cócoras e mais outras descansava nas perninhas de chinês mesmo, sempre com os olhos mansamente fechados. A paz era de um monge.Tentava descansar do cansaço de tanto olhar para aquele céu, azul bebê que sempre profetizava que um belo dia chegava, enquanto perguntava uma boa pergunta.

Era um certo alguém muito prendado, inteligente, bem visto, rico e até muito belo pelo gosto de todas as vizinhas do condomínio, que sonhavam com ele enquanto ignoravam a presença do marido no outro polo da cama. Tinha, sempre teve , pouca sorte. Pouca antes, ontem, agora nenhuma. Desitira de tê-la. Por opção própria, não queria contar mais com ela. As mãos numa atitude impensada apalpavam preguiçosamente a areia da praia, esmagando os milhares de grãos nos dedos enquanto na cabeça surgia um mantra e muitas cores: Sorte é preciso tirar pra ter.

Por isso tirava a sorte fazendo perguntas insanamente. Aquele corpo amorenado sempre dado a fazer perguntas e mais perguntas. Pra tudo e pra todos. O menino do Rio perguntava a hora? Vai chover? Chefinho, posso sair de férias? Eu gosto de você, e você, gosta de mim? Quer ficar comigo? Quer namorar comigo? Casa comigo? Existe vida após a morte? Por que eu rio enquanto o que você só faz é chorar? Eu sou mesmo uma pessoa boa? Posso ir embora? O que foi que eu fiz? Por que não eu?
Sempre saia da língua ótimas perguntas pra qualquer um. Assim ia construindo suas oportunidades. A tristeza vinha era junto com as respostas, de mansinho. Na maioria das vezes que o Não encabeçava a frase , fazia sempre voltar aquela angústia que ele sentia quando era contrariado. Nâuseas. Vômito. Não era acostumado com nãos. De tanto chorar pelas respostas, desistiu de perguntar. Era alguém hoje, agora, ignorante, mas feliz! Muito feliz. O seguro morreu de velho. Faltando uma pitada de sal.

Sem resposta e com medo de perguntar, abdicou da sorte.

A sorte é que não largou ele. Estava de frente pro mar, vendo o sol se pôr, do lado de quem ama, em paz com tudo e todos, um par com Deus quando se deu conta de que sua última pergunta acabava de ser respondida: Isso é o que eu chamo de felicidade.

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